(Instituto Lourival Batista, na antiga residência de Louro)
Acabo
de chegar do Vale do Pajeú, onde passei cinco dias que pareceram durar cinco
minutos mas valeram por um curso de cinco meses. A festa do Centenário de
Lourival Batista (1915-1992), o velho e querido Louro do Pajeú, juntou centenas
de poetas, cantadores, glosadores, cordelistas, pesquisadores, apologistas e
estudiosos da poesia para comemorar os cem anos de um dos cantadores de viola
mais amados, pelo cara talentoso, paternal, boêmio e inteligentíssimo que era.
Foram
cinco dias de festa, com shows de numerosos artistas e grupos locais, além de
Ednardo, Xangai, Maciel Melo, Vital Farias. A família de Louro também subiu ao
palco com sua filha Bia Marinho e seus netos Tonfil e os integrantes do grupo
Em Canto e Poesia. Tivemos lançamentos de livros sobre poesia popular, shows de
MPB e forró, mesa de glosas (a primeira que vi ao vivo, uma coisa fascinante),
e apresentações de violeiros. Tive a alegria de reencontrar cantadores amigos meus
há quatro décadas, como Severino Feitosa, Moacir Laurentino e João Furiba
(lúcido e alegre com mais de 90 anos).
“Tudo
que reluz é Louro”, o lema do evento, foi criado por Ésio Rafael e
imediatamente adotado por Antonio Marinho, organizador-chefe, motor de mil
cilindradas, que bate o escanteio e faz o gol de cabeça. Louro reluz na memória
de todos, pelas muitas qualidades como pessoa e como poeta. Rei do trocadilho na poesia popular, aplicou
nela seu talento de charadista capaz de desmontar e remontar uma palavra em
questão de segundos, sem esforço aparente.
Dono de uma língua ferina muito temida pelos adversários, era ao mesmo
tempo incapaz de uma maldade. Boêmio
inveterado, passava três dias seguidos na farra, cantando, bebendo,
despranaviando, e há quem diga que (como fez o sol com o bíblico Josué) a lua
passava três dias e três noites sem se mexer no céu, para acompanhá-lo na
farra.