(foto do leilão do quadro)
Em 2014 aconteceu uma curiosa descoberta no mundo das
artes. O quadro Dama Adormecida com um
Vaso Negro, do artista húngaro Robert Bereny (1888-1953), estava desaparecido
há décadas. A última vez que tinha sido exibido publicamente fora em 1928. Ninguém sabia do seu paradeiro, e supunha-se
que tivesse sido destruído durante a II Guerra, como aconteceu com tantas
outras obras. Ora, aconteceu que o pesquisador húngaro Gergely Barki, que escrevia
na época uma biografia de Bereny, estava um dia assistindo o filme Stuart
Little com a filhinha quando viu o quadro, na parede de uma casa no filme!
A história completa está aqui (http://tinyurl.com/q5frtkc). Barki passou dois anos mandando cartas e
mensagens para o estúdio, o diretor, os produtores do filme. Acabou recebendo resposta da cenógrafa. O quadro não era uma cópia; tinha sido
comprado por ela num antiquário da Califórnia por 500 dólares. Foi revendido
por um preço muito maior, recambiado para Budapeste e, agora em dezembro, foi vendido
em leilão por cerca de 229 mil euros, cerca de 732 mil reais.
A história acaba aí para quem vê as artes plásticas como um
possível investimento, mas ela tem outras ramificações. A primeira que me ocorre é uma releitura da
famosa frase de Paulo Coelho, de que “quando você tem um sonho pessoal tudo no
universo conspira a seu favor.” O filme é de 1999, portanto passaram-se quinze
anos sem que ninguém notasse o bendito quadro, que aparece, por trás dos
atores, em várias cenas do filme. Eu,
por exemplo, jamais percebi sua presença ali, quanto mais seu potencial de
mercado. Mas quando você é crítico de arte e está escrevendo a biografia de um
artista, examinando foto por foto de quadro por quadro, todo aquele material
está vivo e aceso em sua memória. Não precisa
muito para aquele estalo de “oxente, olha lá aquele quadro...”