Este romance mais recente de Umberto Eco é quase uma continuação de O Pêndulo de Foucault (1988), livro que achei muitíssimo saboroso mas que decepcionou muitos leitores, os quais, ao que parece, esperavam algum tipo de continuação de O Nome da Rosa (1980). O Pêndulo mostrava um grupo de editores pouco escrupulosos envolvidos com conspirações esotéricas: o romance deste ano mostra um grupo de jornalistas pouco escrupulosos envolvidos numa conspiração política. Eco está com 83 anos. Enquanto o livro mais antigo tinha (na edição em inglês que possuo, tradução de William Weeaver) 533 páginas, o mais recente (na edição da Record, tradução de Ivone Benedetti) tem 207. É menos divertido, menos barroco, menos delirante, mas o bom-humor, a ironia e a enciclopédica prosa do autor estão lá.
Os personagens de Número Zero são aqueles jornalistas
calejados, cínicos, meio fracassados, que topam escrever qualquer coisa desde
que descolem a grana do aluguel, da gasolina e da geladeira. O jornaleco é
financiado por um comendador de interesses onipresentes e de envolvimentos
escusos, que monta o pasquim para servir de instrumento de pressão e chantagem
contra seus adversários políticos. Colonna, o narrador, é um desses
teclado-de-aluguel, tão conhecidos por quem é do ramo, ansiosos para que alguém
lhes faça uma proposta indecente. Ao entrar na redação acaba tendo um caso com
Maia, uma redatora jovem e meio perdidona. Juntos, os dois acompanham a
investigação de um terceiro personagem, Bragadoccio, que está aos poucos
levantando uma concatenação meio fantasiosa de fatos históricos poucos
relevantes mas que podem resultar na mais sensacional revelação política da
Europa pós-II Guerra Mundial.
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