Este ano marca o 40º. aniversário de lançamento de High
Rise (1975), um dos romances mais perturbadores do inglês J. G. Ballard. O que
não é pouco, visto se tratar do autor de livros como Crash (filmado por David
Cronenberg, com James Spader). Ballard é um crítico cruel da sociedade
tecnoburocrática, que ele vê como uma violentação constante da natureza humana. Os impulsos animais são cobertos com uma capa
de civilização consumista, escrava da mecanização, embrutecida mental e
emocionalmente através da publicidade, da política, dos códigos de conduta.
High Rise descreve três meses na existência de um enorme
condomínio residencial para profissionais de alto nível, na periferia de
Londres. Nesse prédio de 40 andares, com 20 poços de elevador, encontram-se
todas as instalações indispensáveis à vida civilizada moderna: escolas
infantis, bancos, supermercados, piscinas, salões de beleza, quadras de
esporte, salões de festa. E aos poucos se forma entre os dois mil moradores uma
pirâmide social com os mais ricos nos andares superiores (e elevadores
exclusivos) e os mais pobres nos de baixo. Tensões sociais começam a brotar, ao
mesmo tempo em que a manutenção falha e os conflitos tornam-se brigas
declaradas.
Ballard obtém o efeito do fantástico através da escalada
gradual do absurdo no comportamento desses executivos, astros de TV,
psicanalistas, publicitários, arquitetos, etc. Eles entram espontaneamente em
conflito quando elevadores, lixeiras e outras instalações começam a falhar. Das
discussões com insultos verbais passam às agressões físicas, aos espancamentos,
aos crimes. Eletricidade e abastecimento
de água entram em colapso, e o prédio se transforma numa imensa lixeira onde
clãs de profissionais liberais, empunhando facas e bastões, invadem os
apartamentos dos andares rivais, estuprando suas mulheres e saqueando suas
despensas.
De dia, os moradores vestem suas roupas elegantes, ligam
seus carros de luxo e vão à cidade trabalhar. À noite voltam para o prédio e se
dedicam a embriagar-se em orgias ruidosas.
Praticam arrastões ao longo dos corredores, uns subindo rumo ao topo
como uma forma de conquista de um poder simbólico, outros descendo aos andares
de baixo para dar uma lição aos inferiores.
Haruki Murakami em Kafka à beira-mar: "(…) a realidade nada mais é que um amontoado de profecias sinistras que se tornaram realidade. Abra os jornais de qualquer dia, ponha as notícias numa balança, as boas de um lado e as más do outro. Logo verá que falo a verdade."
ResponderExcluirAbraços