Por volta de 1731, o rei Frederico da Suécia recebeu um presente enviado pelo Rei de Argel: um leão, coisa rara na Suécia, algo que pouquíssimos habitantes do país nórdico tinham visto a não ser nas ilustrações pouco confiáveis da época, nos brasões heráldicos, nas pinturas.
Presentear animais selvagens era um costume dos nobres daquele tempo. Podemos lembrar do romance de José Saramago,
No caso do leão, o rei sueco se afeiçoou ao animal e o
manteve em cativeiro e em exibição enquanto o animal durou. Após sua morte, decidiu
que ele continuaria sendo visto pelo público, e enviou seus restos mortais para
um taxidermista, a quem caberia empalhar o animal. Só que o artista não
conhecia leões, e recebeu apenas os ossos e a pele do bicho.
O resultado foi uma criatura que não parece leão nem aqui
nem em Estocolmo; lembra mais um cachorro sorridente, com dentes humanos e
língua de fora. Sua imagem tem sido usada satiricamente na Internet (ver aqui: http://tinyurl.com/p5byrym).
O caso do Leão do Castelo de Gripsholm, como é chamado, lembra outro presente real famoso, o rinoceronte que Dom Manuel I de Portugal recebeu e que foi imortalizado numa célebre gravura de Albrecht Durer. É um animal mais ornamental do que zoológico, sobre o qual já escrevi aqui: http://tinyurl.com/pu8hj4a).
O caso do Leão do Castelo de Gripsholm, como é chamado, lembra outro presente real famoso, o rinoceronte que Dom Manuel I de Portugal recebeu e que foi imortalizado numa célebre gravura de Albrecht Durer. É um animal mais ornamental do que zoológico, sobre o qual já escrevi aqui: http://tinyurl.com/pu8hj4a).
Não se trata apenas de que os artistas envolvidos são incompetentes ou maus observadores. Eu diria, pra resumir, que o contato com o Extraordinário estimula mais a imaginação do que a observação. Ao enxergar uma criatura que não corresponde aos seus parâmetros, ao seu repertório de referências, o artista interpreta detalhes erradamente; faz associações de idéias que não se aplicam ao caso; preenche lacunas coma primeira coisa ou a coisa mais vistosa) que lhe vem à mente.
Sua imaginação é despertada por aquele objeto exótico ou bizarro que parece menos uma coisa real do que um produto da imaginação de outro artista.
Neles convivem, num mesmo plano, a realidade observada e os complementos arbitrariamente fantasiados pelo artista.
É a mesma receita da ficção científica – só que neste caso a mistura é consciente, proposital e faz parte de uma convenção cultural da época. São objetos literários estimuladores da imaginação, mesmo que aparentados da observação científica.
O nome do livro de Saramago é "A viagem do elefante".
ResponderExcluirAbraços
Valeu, Paulo Rafael. Vou fazer a correção. Não sei onde fui buscar esse título, e estava com a página da Wikipedia aberta (fui ver a data original de publicação).
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