terça-feira, 4 de agosto de 2015

3884) A andróide sexy (5.8.2015)





Já falei aqui sobre o conceito do Uncanny Valley (O Vale do Estranho, ou da Estranheza), muito adotado quando se discutem reproduções animadas de seres humanos. O termo tem origem no famoso ensaio de Freud, Das Unheimlich ("The Uncanny", "O Estranho"), de 1919, onde ele examina “coisas, pessoas, impressões, eventos e situações que conseguem despertar em nós um sentimento de estranheza, de forma particularmente poderosa e definida”. Logo no início Freud cita um ensaio de 1906 de E. Jentsch, segundo ele a única abordagem prévia sobre o tema.



Diz Freud: “Jentsch tomou como ótimo exemplo ‘dúvidas quanto a saber se um ser aparentemente animado está realmente vivo, ou, do modo inverso, se um objeto sem vida não pode ser na verdade animado’; e ele refere-se, a esse respeito, à impressão causada por figuras de cera, bonecos e autômatos engenhosamente construídos.”  Foi certamente essa menção inicial que deixou essas criaturas artificiais, para muita gente, como os melhores símbolos do Unheimlich.



O conceito de Uncanny Valley foi criado para indicar principalmente essa zona crepuscular em que andróides ou bonecos nos dão a impressão de pessoas reais e isso nos produz uma sensação de inquietação, desagrado, ou até repulsa. É diferente de quando vemos uma representação pictórica perfeita: elogiamos a técnica, dizemos que “parece uma pessoa”, mas em nenhum momento aquela tela nos inquieta ou ameaça. Autômatos ou bonecos, no entanto, envolvem uma representação completa do corpo humano, inclusive gestos com as mãos, expressões faciais, sorrisos, o modo de piscar os olhos. E isso produz a sensação do Unheimlich.



No Japão existe uma convenção, o Wonder Festival, para exibição de andróides desse tipo. Na convenção de fevereiro passado, o laboratório A-Lav exibiu Asuna, uma andróide que imita uma garota de 15 anos, sorri, move os olhos. (Aqui: http://tinyurl.com/q55hk67). A impressão de realidade é aumentada pela textura da pele, que é macia e flexível (embora fria).


Não vai demorar muito a produção (que deve começar na clandestinidade) de amantes cibernéticas que sejam um misto entre as atuais bonecas infláveis e andróides como Asuna. A FC prevê há muitos anos essa criação de bonecas do prazer (como a Pris de Blade Runner, interpretada por Daryl Hannah). Mulheres biônicas que não reclamam, não discutem e obedecem as ordens de maridos autoritários ou inseguros. A bem da verdade, é bom admitir que os equivalentes masculinos não devem demorar a entrar também no mercado. Muitos humanos realizarão o sonho utópico do sexo atleticamente satisfatório e sem perguntas, sem confidências, sem indiscreções.


4 comentários:

  1. O escritor Daniel I. Dutra escreveu o livro de contos, "A Eva mecânica e outras histórias de ginoides", em que especula como seria o mundo em que as bonecas sexuais se tornassem uma realidade.

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  2. O Gigolo Joe/Jude Law de A.I. Inteligência Artificial do Spielberg tbm entra nesse rol. Lembro que a composição do robô/garoto de programa revela interessante ambiguidade entre atração/estranhamento. (Abr)

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  3. OPS, Braulio: o anônimo acima sou eu, Fraga.

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