Um websaite (aqui: http://tinyurl.com/ousgv8o) escolheu os seus cinco melhores começos de romances FC e fantasia. E lembrava aos leitores que talvez cada um de nós não possa escrever um romance de fantasia perfeito, mas uma frase inicial perfeita é algo ao alcance de muitos. Soman Chainani cita boas aberturas de livros dos quais não tenho referência, como The Magicians de Lev Grossman (“Quentin fez uma mágica. Ninguém percebeu.”), The Voyage of the Dawn Treader de C. S. Lewis (“Havia um rapaz que se chamava Eustace Clarence Scrubb, e ele era quase merecedor disso.”), Feed de M. T. Anderson (“Fomos à Lua para nos divertir, mas acabou que a Lua era um saco.”)
Por que são bons? (Para esse tipo de análise, não precisam
ser “Os Melhores”, conceito desnecessário.)
No de Grossman temos dois fatos enunciados em duas frases diretas como
duas machadadas vindo de direções opostas. No de Lewis, muito da
espirituosidade da frase deve residir nas ressonâncias desse nome tão
pomposamente britânico, que poderia talvez aparecer nos livros de Rowling ou de
Dickens. O de Anderson, falando da Lua, lembra os contos de Berilo Neves e seus
passeios interplanetários (“—Onde estás? – Em Saturno. Traze-me uma cesta de
framboesas de Teresópolis. Em Saturno, não há framboesas.”), mas tem também uma
tintura cínica, blasê, e lembra os “spacers” saltando de cidade em cidade,
planeta afora, em Samuel Delany (“Aye, and Gomorrah”).
Um comentarista do saite lembra o início de um livro de
Peter S. Beagle: “The unicorn lived in a lilac wood, and she lived all
alone.” Há um curioso problema de
tradução nessa linha. Poderia ser “O unicórnio vivia num bosque de lilases, e
ela vivia ali sozinha”. O inglês
precisa definir o gênero feminino da palavra usando “she”, mas nós podemos
esquecer o “ela” e dizer: “O unicórnio vivia num bosque de lilases, e vivia ali
sozinha”. A revelação-surpresa do gênero é diferente em português. Existirá a
forma “a unicórnia”? Isto é matéria
para os gramáticos. No caso, a opção seria “A unicórnia vivia num bosque de
lilases, e vivia ali sozinha.” O “sozinha” já não estaria dando a informação de
gênero, mas serve como uma confirmação, dissipa a dúvida dos leitores mais
incrédulos.
Ah, eu gosto do começo do "Grande Sertão": Nonada.
ResponderExcluirE o fim: Travessia ...