quinta-feira, 4 de junho de 2015

3831) Histórias proféticas (4.6.2015)



De vez em quando, principalmente no ramo da ficção científica, diz-se que um livro é profético, que adivinhou o futuro. Julio Verne teria adivinhado a invenção do submarino e do cinema (este em O Castelo dos Cárpatos), Isaac Asimov teria profetizado a invenção de automóveis que se guiam sozinhos (e conversam com o motorista), Fulano ou Sicrano teriam antevisto a Internet. (Meu candidato preferido para esta última façanha, é Mark Twain, em 1898; ver aqui: http://tinyurl.com/o43bsdb). Na verdade não é tão simples assim. Verne e Asimov acompanhavam de perto a pesquisa científica e tecnológica dos seus respectivos tempos. Há coisas que sabemos serem possíveis, mas não temos ainda a tecnologia (ou o dinheiro) para fabricá-las. Um escritor pode escrever uma história e pressupor que a tecnologia e o dinheiro já existem.

O mesmo se dá com fatos políticos e históricos. Em 1941, Gil Fox criou uma história em quadrinhos (com desenhos de Lou Fine) para a revista National Comics, descrevendo um ataque a Pearl Harbor, exatamente um mês antes dele acontecer (veja aqui: http://tinyurl.com/pvlcao3). Essa base era a sede da frota naval norte-americana no Pacífico, e seria um alvo natural para qualquer inimigo. Na HQ de Fox, são os alemães que bombardeiam Pearl Harbor, como uma manobra de distração para desviar as atenções de sua verdadeira invasão que ocorre logo depois na Costa Leste. O que faz a HQ de Fox & Fine ser lembrada até hoje é apenas o fato de ter saído apenas um mês antes do ataque japonês, em 7 de dezembro de 1941.

Os japoneses haviam atacado a frota norte-americana no conto de 1914 “Beyond the Spectrum”, de Morgan Robertson, torpedeando navios nas vizinhanças do Havaí e tentando invadir San Francisco. Tido como profético, o conto não faz mais que reproduzir militarmente uma tensão geopolítica que sempre existiu. Robertson (1861-1915), no entanto, é autor de um romance famoso por sua visão profética. Em 1898 ele publicou Futility, em que um navio, o SS Titan, tido como “inafundável”, choca-se com um iceberg numa noite de abril e vai a pique, matando a maioria dos passageiros porque não havia salva-vidas em número suficiente. Os detalhes básicos da história são os mesmos do naufrágio do Titanic, que só veio a ocorrer 14 anos depois. Embora vários detalhes (ver aqui: http://tinyurl.com/c86xo2) justifiquem uma certa perplexidade, acidentes marítimos são relativamente frequentes e semelhantes entre si. Os perigos são os mesmos, os descuidos são parecidos. Nomes pomposos e heróicos também. Coincidências são na verdade convergências de elementos que se repetem.






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