sexta-feira, 17 de abril de 2015

3791) "Ladrão de Sonhos" (18.4.2015)



Estou coordenando, para a Escola de Cinema Darcy Ribeiro (Rio de Janeiro) uma Mostra do Cinema Fantástico, com filmes todos os sábados às 14 horas, entrada franca. A escola fica na esquina da Rua 1º. de Março com Rua da Alfândega, pertinho do CCBB. (Após a sessão, haverá debate o prof. Sérgio Almeida.)

Hoje será exibido Ladrão de Sonhos (“La cité des enfants perdus”, 1995), dirigido por Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro. O filme conta a história de um cientista que para não envelhecer precisa roubar os sonhos das crianças que sequestra. Ele pluga seu cérebro no cérebro dos meninos (Matrix usou recursos visuais análogos) mas se aterroriza com seus pesadelos. Seu esconderijo, num cais do porto brumoso e decadente, é habitado por uma anã, um grupo de clones (todos interpretados por Dominique Pinon, ator-mascote dos diretores), e variadas criaturas com elementos de cyborg ou de vilão de seriado.

Jeunet e Caro estrearam com Delicatessen (1991), que tem a mesma atmosfera surreal, semifuturista (mas um futuro sem muita lógica), personagens grotescos, cenários delirantes, um clima “steampunk”. Cada imagem nos projeta num ambiente de tecnologia do século 19, com elementos de um futuro pouco plausível. Os personagens são caricaturas; comportam-se como personagens de desenho animado, sem muita preocupação com realismo emocional.

Jeunet separou-se depois de Marc Caro (que é mais cenógrafo do que diretor) e realizou filmes como Alien: Ressurrection (1997), O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), Eterno Amor (2004) e outros. Embora seus filmes tenham uma incessante criatividade visual e narrativa, ele nunca mais produziu delírios tão consistentemente fantásticos quanto esses dois primeiros filmes, mistura de surrealismo, ficção científica, quadrinhos, velhos seriados.

Os filmes de Jeunet & Caro são exemplos do que chamo de Ciência Gótica: histórias repletas de elementos científicos (máquinas, laboratórios, instrumentos, experimentos químicos e físicos), mas desprovidas voluntariamente da lógica científica. É uma ciência cenográfica, acima de tudo, porque o mundo onde esses adereços se amontoam é um mundo Gótico: sombrio, ominoso, inexplicável, resistente à lógica e aos sentimentos, um mundo onde os seres humanos parecem máquinas de outro tipo, executando ações insensatas e brutais.

Ladrão de Sonhos, cujo título original é “A cidade dos meninos perdidos” é um filme desconcertante, a menos que o espectador consiga vê-lo com os olhos com que, menino, observava coisas terríveis, ameaçadoras, fascinantes, repulsivas, coisas que pertenciam ao mundo dos adultos, o mundo bizarro que um dia seria o seu.



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