Colin Wilson,
escritor existencialista britânico, propôs o conceito de “outsider” para
designar o indivíduo inquieto, rebelde, movido por uma intensa busca de sentido
na vida, e que tanto pode derivar para a grande arte quanto para o crime. Muitos livros seus têm como centro
personagens que realizam essa busca.
Neste romance de 1971, a história acompanha o compositor erudito
Christopher “Kit” Butler, que aceita, meio na esportiva, o convite de um amigo
que faz parte do Serviço Secreto britânico, o MI5, para participar de uma
experiência científica como cobaia altamente qualificada. A experiência, realizada numa espécie de
hotel-com-laboratório num lugar remoto, consiste em submeter-se durante dias à
experiência da total privação dos sentidos da visão e (tanto quanto possível)
da audição. O objetivo é medir o grau
de resistência ao tédio e ao isolamento, para seleção e treinamento futuro de
espiões.
Butler é o
porta-voz das teorias de Wilson, e discute com os cientistas e as outras
cobaias sobre energia mental, concentração, autocontrole emocional, etc. Ao mesmo tempo, ele percebe que outras
agências, como a CIA, a KGB e uma misteriosa “Estação X”, espionam as pesquisas
dos ingleses. Na segunda parte do
livro, Butler, já aprovado, está em Praga numa missão um tanto inócua mas
arriscada. É sequestrado e depois de algumas aventuras violentas vai parar na
sede da misteriosa Estação X, onde se defronta com um chefe cheio de teorias
próprias sobre o assunto.
Em matéria de
escritor popular, conheço poucos como Colin Wilson capazes de encadear uma
discussão filosófica e psicológica superficial, mas que faz sentido, com
aventuras e um senso de realidade satisfatório. Os seus romances policiais são bem melhores que sua ficção
científica, e The Black Room lembra um pouco aquelas histórias de espionagem
cheias de traições, subentendidos e reviravoltas, tipo John Le Carré. O único defeito do livro, se é que é defeito
e não um corte ousadíssimo, é que ele não acaba, interrompe-se
bruscamente. Há um desfecho em vista,
mas precisaria de mais 20 ou 30 páginas para dar-lhe alguma conclusão
satisfatória numa situação política tão complicada, embora haja algumas alusões
interessantes à política européia de 1968.
Hmmm, dá vontade de ler algo dele, nuncuvi falar do autor.
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