(Cortázar e sua mãe)
“Momma boy”, filhinho-da-mamãe, há expressões igualmente
desdenhosas em qualquer idioma. Foi
feita para aplastrar aquele menino assustado ou impertinente que não larga a
saia materna, e o máximo de independência que ganha ao crescer é uma certa
autonomia para chantageá-la e extrair o que quer.
Porém são igualmente numerosos os casos de meninos criados na órbita de uma matrona e que se tornaram, se não grandes homens, pelo menos grandes artistas (o que, pelo menos pra mim, parece melhor negócio.)
Porém são igualmente numerosos os casos de meninos criados na órbita de uma matrona e que se tornaram, se não grandes homens, pelo menos grandes artistas (o que, pelo menos pra mim, parece melhor negócio.)
Penso em Julio Cortázar, cujo pai sumiu por completo quando
ele tinha cinco anos. Quando o filho
estava famoso, o velho escreveu-lhe pedindo que por gentileza se assinasse
“Julio Florencio Cortázar”, para que não fossem confundidos um com o outro. Ele
respondeu: “Querido senhor, nada sei do senhor, espero que esteja muito feliz,
mas eu vou continuar assinando Julio Cortázar”.
John Lennon reagiu com mais acidez ainda, quanto o pai o
procurou depois da fama; mas Lennon não teve por muito tempo “a virtude de
dormir entre dois seios”, como versejou Lourival Batista. A mãe morreu atropelada quando ele era ainda
garoto, mas a preferência afetiva por ela sempre foi muito clara em tudo que
ele escreveu.
Penso em Cornell Woolrich, o rei do “roman noir” levado ao
cinema (A Sereia do Mississipi, A Noiva Estava de Preto, Janela
Indiscreta, etc.). Pais separados; ele ao que parece era gay, teve durante 3
meses um casamento frustrado e depois viveu num hotel com a mãe até a morte
dela, quando ele tinha 54 anos. Bebeu até apagar.
Raymond Chandler, que nunca conheceu o pai (alcoólatra, como
ele viria a ser), e cuidou da mãe até os 35 anos, quando ela morreu. Meses
depois ele casou-se com Cissy Pascal, 18 anos mais velha, e cuidou dela até a
morte.
Não muito diferente foi a trajetória de Jorge Luís Borges, que após a morte do pai cuidou da mãe, D. Leonor (cuidou é eufemismo para “foi cuidado por”). Teve também um casamento mal sucedido e voltou para morar com a mãe até a morte dela aos 99 anos, quando ele próprio tinha 75.
Não muito diferente foi a trajetória de Jorge Luís Borges, que após a morte do pai cuidou da mãe, D. Leonor (cuidou é eufemismo para “foi cuidado por”). Teve também um casamento mal sucedido e voltou para morar com a mãe até a morte dela aos 99 anos, quando ele próprio tinha 75.
Mas talvez nenhum deles tenha tido o espírito arlequinesco e lúdico que Sartre afirma (As Palavras) ter experimentado na infância ao lado da mãe, que enviuvou muito jovem, o que gerou entre ela e o filho uma convivência de cúmplices numa família dominada por um avô tonitruante; ela e o menino partilhavam passeios, filmes, pequenas aventuras de gente sem culpa que se diverte com bem pouco.
Em entrevista na Paris Review, Billy Wilder conta que Chandler era muito pudico a ponto de haverem rompido por conta das inúmeras namoradas (jovens) de Wilder que abandonava o roteiro de pacto de sangue para namorar.
ResponderExcluirÉ curioso que os pais de Cortázar não tenham seguido a tradição do idioma espanhol: batizar a criança com nome/sobrenome paterno do pai/sobrenome paterno da mãe. Como, por exemplo, Pablo Ruiz Picasso, nome da mãe María Picasso y López, nome do pai José Ruiz Blasco.
ResponderExcluirPara Cortázar, tem-se nome da mãe María Herminia Descotte e nome do pai Julio José Cortázar. Talvez, se Cortázar se chamasse Julio Cortázar Descotte, e então Julio Descotte, não tivesse se tornado escritor.
É interessante que a tradição espanhola seja diferente da nossa. Aqui é: prenome / sobrenome materno / sobrenome paterno. Meu nome deveria ser Braulio Santa Cruz Tavares.
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