Existem obras literárias que dão a impressão de ser a coisa
mais fácil do mundo. A gente pensa que o sujeito sentou e digitou aquilo em dez
minutos, de tão espontâneo e fluido que fica o poema, o conto, o parágrafo de
artigo ou de romance.
Às vezes é assim, sim, mas nem sempre. Às vezes só se chegou àquela fluidez final depois de ralar muito. O texto ideal, num sentido imediato, é aquele que tem muita elaboração oculta sob uma superfície aparentemente simples. A primeira leitura dá um sentido imediato. A segunda traz outro, a terceira mais um, a quarta... A gente começa a perceber sonoridades, jogo de sinônimos, uma ambiguidade proposital ali, uma referência sutil acolá...
O texto continua ali, claro. Uma quadra de Pessoa ou de Cabral, um soneto de Drummond ou de Bandeira, um epigrama de Millôr ou de Quintana, mas aos poucos vamos reconstituindo os mil afluentes que resultaram naquela correnteza transparente, límpida.
Às vezes é assim, sim, mas nem sempre. Às vezes só se chegou àquela fluidez final depois de ralar muito. O texto ideal, num sentido imediato, é aquele que tem muita elaboração oculta sob uma superfície aparentemente simples. A primeira leitura dá um sentido imediato. A segunda traz outro, a terceira mais um, a quarta... A gente começa a perceber sonoridades, jogo de sinônimos, uma ambiguidade proposital ali, uma referência sutil acolá...
O texto continua ali, claro. Uma quadra de Pessoa ou de Cabral, um soneto de Drummond ou de Bandeira, um epigrama de Millôr ou de Quintana, mas aos poucos vamos reconstituindo os mil afluentes que resultaram naquela correnteza transparente, límpida.
Ariano Suassuna tinha um conhecido que gostava de fazer
trocadilhos, mas eram trocadilhos extremamente forçados, tortuosos. Por exemplo, ele encontrava Ariano na cidade
e dizia: “Pois é, rapaz, você é um cara íntegro, uma pessoa tão inteira, tão
una... E num calor como esse que está
fazendo... Suas, una?” Ele se acabava
de rir com esse exemplo e dizia: “Imagine só as noites em claro que ele tinha
de passar pra chegar a esse resultado!”
O livro mal escrito é assim: é uma tentativa de idéia para a
qual o autor nunca acha o caminho mais adequado e acaba jogando sua idéia
inicial no colo do leitor dessa forma, uma forma complicada, desajeitada, algo
tão distinto da maneira normal de pensar e de falar que precisa de um certo
esforço para se entender.
Quando o texto literário precisa de um esforço muito grande do entendimento para captar o primeiro sentido, o mais superficial, alguma coisa está errada. Uma frase que precisa ser lida duas vezes ou é uma frase genial ou é uma frase mal escrita (o que é muito mais frequente).
Quando o texto literário precisa de um esforço muito grande do entendimento para captar o primeiro sentido, o mais superficial, alguma coisa está errada. Uma frase que precisa ser lida duas vezes ou é uma frase genial ou é uma frase mal escrita (o que é muito mais frequente).
Quanto mais difícil um texto, maior a recompensa estética que deve resultar da leitura. Se a recompensa de todo o nosso esforço é na faixa de “suas, una?”, amigo, melhor ir fazer outra coisa do seu tempo e do tempo alheio.
ai, meu Deus, será que meus trocadilhos são ruins?
ResponderExcluirHAHAHAHA ótimo texto!!