(Eu e Tide no carnaval)
Tem
um blog impagável (http://coisasqueeuachavaqdoeracrianca.tumblr.com/)
onde as pessoas contribuem com suas lembranças de infância, aqueles pequenos equívocos
meio absurdos que toda criança comete por não entender direito o mundo dos
adultos. Exemplos do blog: “Eu pensava que em hotéis só entravam homens, e em
motéis, mulheres”; “Eu pensava que uísque 12 anos era para crianças de 12 anos
tomarem”; “Eu achava que sexo oral era de hora em hora e sexo anal de ano em
ano”, etc.
Bem...
Eu me lembro que eu achava que a Terra boiava solta no espaço, junto com
planetas e estrelas, e que por baixo de tudo havia o Oceano Atlântico, que se
expandia até o infinito em todas as direções.
Outra: meus pais mandavam ter cuidado com giletes, dizendo que havia
perigo de alguém se cortar, etc., de modo que sempre que eu via uma gilete de
bobeira eu a pegava, me trancava no banheiro, quebrava-a em pedacinhos, jogava
na privada e dava descarga. Quando pequeno, eu ouvira dizer que o Inferno era
embaixo do chão, então quando eu via um buraco qualquer na terra eu me agachava
para espiar, para ver como era o inferno.
Uma
vez perguntei a minha mãe o que tinha dentro do corpo da gente, eu ficava
apontando: “E aqui?”, e ela dizia: “O fígado”, etc., até que a outra pergunta
ela respondeu distraída “o ovário”, e dias depois eu disse: “Não posso ir pra
aula, estou com dor no ovário”. Ainda nos mistérios sexuais, eu lia nos contos
da época coisas como “e daquele beijo apaixonado nasceu um dia nosso
filhinho...” e imaginava que as mulheres engravidavam com um beijo, o que
trouxe um suspense adicional a qualquer filme, pois bastava haver um beijo e eu
ficava imaginando que a mocinha ia ser botada de-casa-pra-fora.
Uma
vez, ouvindo uma novela de rádio, eu lamentei que não fosse TV para a gente ver
as aventuras dos heróis na selva, e minha irmã Clotilde disse: “Não, se fosse
TV a gente ia ver uma sala cheia de microfones e as pessoas lendo o texto em
folhas de papel”, e eu achei a TV uma decepção. Minha Tia Adiza, que era
solteira, morou conosco muitos anos, e como ela todo dia trocava de roupa e ia
para o trabalho, tal como meu pai, eu perguntei a minha mãe se Tia Adiza era
mulher ou homem.