quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

3433) Quando eu era criança (27.2.2014)


(Eu e Tide no carnaval)

Tem um blog impagável (http://coisasqueeuachavaqdoeracrianca.tumblr.com/) onde as pessoas contribuem com suas lembranças de infância, aqueles pequenos equívocos meio absurdos que toda criança comete por não entender direito o mundo dos adultos. Exemplos do blog: “Eu pensava que em hotéis só entravam homens, e em motéis, mulheres”; “Eu pensava que uísque 12 anos era para crianças de 12 anos tomarem”; “Eu achava que sexo oral era de hora em hora e sexo anal de ano em ano”, etc.

Bem... Eu me lembro que eu achava que a Terra boiava solta no espaço, junto com planetas e estrelas, e que por baixo de tudo havia o Oceano Atlântico, que se expandia até o infinito em todas as direções.  Outra: meus pais mandavam ter cuidado com giletes, dizendo que havia perigo de alguém se cortar, etc., de modo que sempre que eu via uma gilete de bobeira eu a pegava, me trancava no banheiro, quebrava-a em pedacinhos, jogava na privada e dava descarga. Quando pequeno, eu ouvira dizer que o Inferno era embaixo do chão, então quando eu via um buraco qualquer na terra eu me agachava para espiar, para ver como era o inferno.

Uma vez perguntei a minha mãe o que tinha dentro do corpo da gente, eu ficava apontando: “E aqui?”, e ela dizia: “O fígado”, etc., até que a outra pergunta ela respondeu distraída “o ovário”, e dias depois eu disse: “Não posso ir pra aula, estou com dor no ovário”. Ainda nos mistérios sexuais, eu lia nos contos da época coisas como “e daquele beijo apaixonado nasceu um dia nosso filhinho...” e imaginava que as mulheres engravidavam com um beijo, o que trouxe um suspense adicional a qualquer filme, pois bastava haver um beijo e eu ficava imaginando que a mocinha ia ser botada de-casa-pra-fora.

Uma vez, ouvindo uma novela de rádio, eu lamentei que não fosse TV para a gente ver as aventuras dos heróis na selva, e minha irmã Clotilde disse: “Não, se fosse TV a gente ia ver uma sala cheia de microfones e as pessoas lendo o texto em folhas de papel”, e eu achei a TV uma decepção. Minha Tia Adiza, que era solteira, morou conosco muitos anos, e como ela todo dia trocava de roupa e ia para o trabalho, tal como meu pai, eu perguntei a minha mãe se Tia Adiza era mulher ou homem.

Durante algum tempo acreditei que quando alguém era condenado a prisão perpétua ele ia para a cadeia e nunca mais morria. Uma vez discuti com Tide sobre a pronúncia do nome Washington, que eu dizia que era Uachínton e ela dizia que era Vasguitón.  Vendo filmes de guerra, eu cheguei à conclusão de que quando dois países entravam em guerra eles mandavam os respectivos exércitos brigar na África, que era uma espécie de continente baldio.


Um comentário:

  1. Ideias de Caboclo
    Estraído do Livro:
    "Poetas Populares e Cantadores do Ceará",
    de Alberto Porfírio

    O professô dos menino
    Fala, fala chega estronda!
    Querendo qui eu acredite
    Qui a terra seja redonda.

    Não, senhor, num acredito
    Nunca pude acreditá
    Qui viva assim todo mundo
    Andando em cima duma bola
    Sem nunca iscorregá!

    Vós mincê preste atenção,
    Um monstro cuma é o trem!...
    Se a terra fosse redonda,
    Iscorrega tombém.

    Ele só diz qui a terra
    Veve solta no espaço
    Rodando num canto só
    Sem tê nada de embaraço.

    Muvimenta... muvimenta
    E nunca descansa um pedaço,
    E qui é as volta qui ela dá
    Qui serve pra controlá
    A frieza e o mormaço.

    Num acredito!... não! não!
    Qué sabê cuma é a terra
    Na minha maginação?
    É um prato feito de barro
    Mal feito mais bem grandão!
    Emborcado em riba d’água
    N’uma firme pusição,
    Cum a gente morando in riba
    Cum toda satisfação.

    Vou prová cuma é mermo
    Vou dá toda a insplicação:

    Quando Deus fez este mundo
    Mandou a terra secá,
    Mandou se juntá as água
    E foi assim qui fez os má.
    E se a terra fosse doida
    Rodando pra se acabá,
    Tinha derramado as água
    E era até pirigoso
    O próprio Deus se afogá.

    Tá certo ou num tá?!

    Os home religioso
    Gostun de dizê a gente
    Qui tem um tal de inferno
    De fogo qui é munto quente
    Qui vai pra dentro desse fogo
    As alma dessas pessoa
    Qui num vão munto decente

    Desses home priguiçoso
    Qui num quere trabaiá;
    Dessas muié vaidosa
    Qui usun as roupa curta
    Qui é do juêio pra lá;
    Qui usun outras safadage
    Fazendo a gente pecá
    Dispois tudo morre
    Vai morá nesse lugá
    Debaixo desse arguidá.

    Agora eu aviso os home
    Qui pras muié são ingrato
    Tombém aviso as muié
    Qui andun de ponta-de-pé
    Mode os sarto do sapato;
    Dão zunhada e esconde as unha
    Fazendo a moda de gato
    Se morrê nesses pecado
    Vão pra debaixo do prato...

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