(foto: Sophia Pedro / Editora Três)
Devo ter lido André Carneiro pela primeira vez por volta de
1965, ano da publicação da antologia Além do Tempo e do Espaço (editora
Edart, SP), talvez a primeira antologia de FC brasileira que li. Incluía, curiosamente, um elenco de autores
que ninguém identificaria com o gênero: Domingos Carvalho da Silva, Lygia
Fagundes Telles, Álvaro Malheiros, Nelson Leirner e outros. Não lembro muito do conto dele; o conto
marcante, para mim, foi “Da Mayor Speriencia” de Nilson Martello. Depois ele
foi reaparecendo em revistas e antologias, e assim formou-se na minha memória a
trinca dos grandes autores da chamada Geração GRD: André Carneiro, Fausto Cunha
e Rubens Teixeira Scavone.
André foi poeta da Geração de 45 antes de escrever FC. Foi editor de um importante jornal
literário, Tentativa, sobre o qual já falei nesta coluna (aqui: http://tinyurl.com/m5p3puc). Foi
fotógrafo, cineasta, artista plástico.
A FC era apenas uma das suas muitas atividades, um aspecto dele com que
sempre me identifiquei, porque o escritor típico de FC não apenas não faz outra
coisa, ele nem sequer escreve outra coisa.
Tinha um estilo fluente, fácil, e parecia produzir sem muito
esforço. Aos 75 anos publicou um encorpado volume de contos, A Máquina de
Hieronymus, e aos 85 outra coletânea, Confissões do Inexplicável, com mais
de 600 páginas (fez também as ilustrações, uma série de colagens). Nos anos
mais recentes, encontramo-nos algumas vezes no Fantasticon, o evento de
literatura fantástica em São Paulo. E
nos falamos por telefone quando incluí contos dele em duas antologias minhas:
“A escuridão”, talvez sua obra-prima, em Páginas de Sombra, e “Do outro lado
da janela”, em Páginas do Futuro.
Depois dos 80 anos a vista piorou; ele saiu de São Paulo e
foi morar com o filho, em Curitiba. Ao
telefone, comentava com entusiasmo este ou aquele livro que estava lendo. Eu
perguntava: “Mas André, você não disse que a vista estava ruim?” “E está, mas
eu pluguei a câmera digital na TV grande da sala, fico filmando a página e
vendo as letras bem grandes na TV, passo o dia lendo.”
opa, Braulio. triste notícia. André era uma figura. nunca vou esquecer qdo minha namorada (em 83) disse q estava apaixonada por ele e ela por ele. eu fui ler todos os livros do cara pra saber quem era esse safado. rs...
ResponderExcluirdigo, ele por ela.
ResponderExcluirPrezado Bráulio, o conto do André Carneiro na antologia "Além do tempo e do espaço" foi "Um casamento perfeito".
ResponderExcluirNa era pré-facebook, estando em uma sala de bate-papo onde se discutia ficção científica, comentei com um participante que esse conto me impressionou bastante. Por coincidência o meu interlocutor era amigo do André, e me colocou em contato com ele. Trocamos algumas mensagens e conversamos por telefone algumas vezes. Culpa minha ter interrompido o contato. Excesso de provas para corrigir e outros perrengues típicos de professores, que me tomavam tempo demais e me impediram de escrever e de telefonar de volta, pelo que muito lamento. Ficará conosco a lembrança e a admiração por esse escritor e ser humano maravilhoso.