Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 31 de agosto de 2014
3592) A hipótese Tunguska (31.8.2014)
Foi um risco incendiário e chispante, que cruzou o céu noturno, explodiu em estilhaços de fagulhas amarelo-rubras no meio de uma floresta ou tundra nevada, e desde esse dia o mundo não foi mais o mesmo. Ninguém percebeu a princípio, porque a escala da propagação foi orçada por volta de um século. Pois bem. Já mais de um século se passou.
Até então o mundo era determinista, era o que um cientista chamaria de mecânico e newtoniano. A explosão que teve ali não era uma bomba de nêutrons, que mata os seres vivos e deixa a propriedade intacta, nem uma bomba radioativa, que fulmina venenosamente o corpo vivo. Era uma bomba probabilística. Ia direto alterar o menu do possível. O mundo tornou-se probabilisticamente instável. Em termos macrocósmicos um nerd poderia dizer que era um patch para fazer um upgrade de dificuldade no universo.
A causalidade de tudo, que era só dividida por dois, em infinitos múltiplos pares, se viu estilhaçar em dízimas periódicas irresolvíveis, com mais dígitos do que existem quarks no universo físico. O mundo tornou-se um produto de causa-e-efeito não-simétrico, sabotando a simplicidade das tabelas periódicas. O software básico do mundo tornou-se errático, cheio de exceções, de numeradores primos, de denominadores infinitos.
O choque da semicolisão entre o artefato e a Terra foi se alastrando anos afora. Onze anos depois, Charles Fort publicava seu primeiro volume de anomalias, e Robert L. Ripley começava a colecionar o estranho, o bizarro, o inesperado. O que antes eram franjas da mais remota improbabilidade pareciam de repente tomar conta do mundo. Metaforicamente falando, as telhas estavam subindo sozinhas para o teto. Tudo que era improvável mas não cientificamente impossível começou a ser um lugar comum. Mundo mais instável.
A parafernália astronômica e cosmológica é para distrair os humanos da verdadeira natureza do Universo e da Terra (com os dados da Terra, a situação real). O Universo não está em expansão, e sim em contração. Como uma esfera cheia de gás, estreitando-se, comprimindo o frevo de movimentos brownianos das moléculas que a habitam. O polarizador de probabilidades está zunindo a mil por hora. Pós-Tunguska, o mundo ficou mais acelerado, o tempo mais rápido, os anos mais curtos. O auge do surrealismo, o surgimento da mecânica quântica, de Tesla, de James Joyce, uma procissão de sintomas, filosóficos ou estéticos, registrando esse mundo de probabilidades que se estilhaçam em infinitos. Ficou como uma HQ de Moebius. Nada é tão comum que não possa ficar extraordinário, e nada é tão improvável que não haja um fiapo de história onde ele faça sentido.
Clap, clap, clap!
ResponderExcluirBem que eu desconfiava...
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