A catastrófica derrota do Brasil para a Alemanha, na semifinal da Copa, foi um desses pesadelos que já tive inúmeras vezes na vida, sempre que nossa Seleção ia enfrentar um time bom e estava mal das pernas. Vinha o jogo, e acontecia uma surrazinha normal de 2x0 ou 3x1, que todo mundo lamentava e eu comemorava com alívio, pensando na hecatombe que tinha sonhado na véspera. Mas é mania dos pesadelos baterem em tantas portas que um dia encontram uma que se abre. Foi assim com a porta deste 8 de julho. Paciência.
Parece que há um ciclo de dezesseis anos nos trazendo essas
derrotas tão dolorosas. Começou com 1950 no Maracanã, 2x1 para o Uruguai (o
jogo de Ghiggia). Dezesseis anos depois,
em 1966, tivemos os 3x1 para Portugal (o jogo de Eusébio). Com mais dezesseis,
veio o 3x2 para a Itália em 1982 (o jogo de Paolo Rossi). Dezesseis anos
depois, em 1998, veio a decisão dos 3x0 para a França (o jogo de Zidane). E com
mais dezesseis, agora em 2014, veio essa histórica goleada alemã, e desta vez
não houve um carrasco específico, o time quase todo fez gol. Vamos abrir o olho
com a Copa de 2030, portanto.
O futebol é tão imprevisível que se o time de Felipão
tivesse derrotado esta Alemanha de Joachim Löw não nos faltariam razões. Diríamos
que Fulano e Sicrano confirmaram as boas atuações, que Beltrano desencantou,
que os alemães suaram para empatar com Gana e vencer a Argélia... Nunca sabemos
quando o time vai desencantar. Afinal, já houve tantas vezes em que vínhamos
catando cavaco, ganhando mal de equipes pequenas, e de repente o sapo virou
príncipe.,, Já fomos campeões assim. (Em 1994 e 2002, para ser mais preciso.)
Triste não é perder um jogo, é perder o próprio
futebol. O Brasil inventou o que os
gringos chamam de “Beautiful Game”, exportou-o para Espanha, Alemanha, Holanda,
e o trocou domesticamente pelo futebol truculento e retranqueiro de Felipão e Parreira.
Até admiro as qualidades dos dois, que afinal de contas nos deram Copas, mas
quando se juntaram agora parece que houve uma soma dos defeitos e um
cancelamento das qualidades. A Seleção
de 2014, pelo meu gosto, jogou bem apenas no segundo tempo contra Camarões e no
primeiro contra a Colômbia.
Essa Copa seguiu o roteiro de uma temporada do Game of Thrones, com muitas surpresas (Costa Rica), histórias absurdas (mordida) e, no penúltimo episódio, o assombro geral. A derrota foi como a morte do Ned Stark, ou o Casamento Vermelho.
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