Uma das coisas que gosto é ler biografias de escritores, cineastas, etc. Quando me interesso pelo trabalho de um artista, fico curioso em conhecer aquela figura por trás de livros tão interessantes, canções tão bem feitas. “Quem é o camarada que escreveu um livro tão genial, tão maluco, tão imprevisível?” Acho isso uma expansão natural da nossa curiosidade por alguém.
Isso modifica nossa visão da obra? Depende. Há leitores
que só sabem pensar em termos de pessoas, e para eles a obra é apenas um
caminho para saber o que Shakespeare achava do amor, o que Drummond pensava do
Brasil, quais as raízes das neuroses de Kubrick ou quais as preferências
sexuais de Nelson Rodrigues.
Às vezes chamo esses leitores de “leitor Contigo”, porque o ideal para eles seria a existência de uma Revista Contigo da literatura, revelando fofocas sórdidas (“Leia aqui: a verdadeira razão das brigas de Scott e Zelda”), as especulações indiscretas (“Hemingway era mesmo impotente?”) ou uma miríade de factoides irrelevantes (“Não perca: a cor preferida de todos os ganhadores do Nobel”).
Às vezes chamo esses leitores de “leitor Contigo”, porque o ideal para eles seria a existência de uma Revista Contigo da literatura, revelando fofocas sórdidas (“Leia aqui: a verdadeira razão das brigas de Scott e Zelda”), as especulações indiscretas (“Hemingway era mesmo impotente?”) ou uma miríade de factoides irrelevantes (“Não perca: a cor preferida de todos os ganhadores do Nobel”).
O outro tipo de leitor é mais fácil de encontrar entre
escritores, críticos, professores de um modo geral, pessoas que pela sua
formação (ou deformação) tendem a ver a obra de arte como o ponto final de tudo
(“o mundo existe para resultar num livro”, como dizia Mallarmé). Ele não se
interessa muito pelo autor, no que sua vida e sua pessoa têm de extra-obra. Ele
procura na vida os ecos da obra, e não na obra os reflexos da vida.
Biografias lhe servem para procurar feito um detetive tudo que ajudou na concepção de tal cena do filme, de tal verso do poema. O resto é irrelevância que vai para o porão da memória após a leitura. Eu sou assim.
Biografias lhe servem para procurar feito um detetive tudo que ajudou na concepção de tal cena do filme, de tal verso do poema. O resto é irrelevância que vai para o porão da memória após a leitura. Eu sou assim.
O processo criativo da arte (e o da ciência também, que é irmão do outro) é fascinante porque é imprevisível. Como sou também um artista criativo aos olhos de muita gente, recebo às vezes a pergunta: “Como foi feita a música X, o poema Y, o conto Z?”
Respondo, quando posso, descrevendo o processo concreto: idéia inicial, quanto tempo levou, em que circunstâncias foi feito. Mas a maior pergunta, a que faço sempre ao abrir uma biografia ou estudo, é: “Como aquilo brotou na mente de uma pessoa?”. É a mais importante, que não sei responder nem sobre mim mesmo, e acabo indo procurar a resposta na mente dos outros.
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