Acho que a maioria dos soldados tornam-se soldados, pelo menos em desejo e fantasia, por volta dos cinco ou seis anos de idade. Se bem me lembro, nesse período tudo que o camarada sonha na vida é ser tranquilizadoramente coletivo, e assim ser grande, ser forte, ser capaz de ser brutal, poder ver o medo nos olhos de quem o avista, poder empunhar aqueles instrumentos terríveis cheios de raios e trovões. O menino quer ser um Deus atemorizante e invulnerável. Só o soldado é assim.
Ser soldado não é ser preparado apenas para matar, mas
também para controlar o medo de morrer. Mais do que um poder sobre a morte, ser
soldado implica num poder sobre o medo.
Uma das cenas mais vibrantes de um episódio recente de Games of
Thrones ((HBO, cuja 4a. temporada terminou há poucos dias) é quando
um gigante inimigo consegue arrombar a entrada de um túnel numa fortaleza, e
cinco soldados da Guarda Noturna entram no túnel para detê-lo. O monstro é
gigantesco, e quando se aproxima eles, aterrorizados e de armas em punho,
gritam juntos o juramento que fizeram ao se alistar ali: “A noite está
chegando, e minha vigília vai começar! Ela não chegará ao fim antes da minha
morte! Eu nunca terei esposa, nunca possuirei terras, nunca terei filhos! Nunca usarei coroa, e não conquistarei
glórias! Eu viverei e morrerei no meu posto! Eu sou a espada da escuridão! Eu
sou o sentinela no alto da muralha! Eu sou o escudo que protege os reinos dos
homens! Eu dedico minha vida e minha honra à Guarda Noturna, nesta noite e em
todas as noites que virão!”. E partem
para a batalha desigual.
Para uns, ser soldado evoca, de cara, a “licença para
matar”, o apelo ao carcará sanguinolento que habita o inconsciente de toda
pessoa civilizada. Para outros, evoca a
nobreza de mandar e a de obedecer. Para
outros ainda, a diluição-em-pixel numa estrutura maior, onde é possível obter
anonimato e paz. Para outros, há um
trabalho a ser feito, alguém precisa fazê-lo, então que o faça bem feito, não
importa a que custos ou sacrifícios. Para outros, é a escada mais curta para um
trono.
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ResponderExcluirLindas as cinco vertentes do soldado. Porém acho que a maioria é daqueles mesmos que não sabem o que estão fazendo ali, e por isso mesmo, como você disse, tornam a luta a questão mais importante de suas existências.
ResponderExcluirGostei dos textos sobre Game of Thrones. Se quiser falar mais sobre as mulheres, adoraria ler. Afinal parecemos sempre tão escondidas e insignificantes aos olhos dos homens, mas quantas coisas só acontecem por causa dos silêncios femininos propositais.