terça-feira, 20 de maio de 2014

3503) Os slogans da Copa (20.5.2014)



Podem dizer que minha abordagem é preconceituosa.  Entre outras coisas, é a pura verdade.  Não tenho preconceito contra a Copa do Mundo, tenho contra a Fifa que a promove e que se parece com uma Máfia, uma Wall Street, uma limusine de mercenários, um valhacouto de cavalheiros-da-indústria, uma gangue de trambiqueiros de alto coturno. Não tenho preconceitos contra negros, judeus, homossexuais, índios, mulheres, contra quase ninguém. Tenho preconceito contra a Fifa. (Não devo pensar que sou melhor do que pessoa alguma.)

A Fifa promoveu uma votação/enquete para escolher 32 slogans, aqueles que são pintados nos ônibus das 32 seleções que disputarão a Copa no Brasil.  Não consegui descobrir como feita essa eleição, se foi com sugestões do público em geral, ou se se deveu à mesma comissão que criou o Fuleco. 

O slogan da nossa seleção é: “Preparem-se! O hexa está chegando!”. Brasileiríssimo, pois não se trata de “Vamos conquistar o hexa, passando por cima de pau-e-pedra!”. É tipo “estamos aqui, na piscina do hotel, e alguém ligou no celular dizendo que o hexa está chegando daqui a pouco, dependendo do trânsito e das manifestações”.  Corre, Neymar!

Alguns slogans são do tipo tiro-no-pé. Os belgas dizem: “Esperem o impossível!”. (Ao que os franceses, mais profissionais, afirmam: “O impossível não existe em francês”). Os uruguaios (logo eles, contumazes estragadores-de-festa) dizem: “Três milhões de ilusões, vamos lá, Uruguai!”. Tomara que fiquem na ilusão mesmo. Alguns recorrem à mitologia totêmica, como Camarões (“Um leão é sempre um leão”) ou a Costa do Marfim (“Os elefantes à conquista do Brasil”).

Vários países concorrentes revelam uma certa pressa ansiosa em afirmar que já realizou sua individuação do Self junguiano. Argentina (“Não somos um time, somos um país”), Colômbia (“Aqui não viaja um time, viaja um país inteiro!”), Equador (“Um compromisso, uma paixão, um só coração, é para ti, Equador!”), Alemanha (“Uma nação, um time, um sonho!”), Honduras (“Somos um povo, uma nação, cinco estrelas de coração”).

Pra não dizerem que sou só má vontade, gostei dos lemas do México (“Sempre unidos, sempre astecas”), do Japão (“Samurai, chegou a hora da luta”), de Portugal, realista e esperançoso (“O passado é história, o futuro é a vitória”). Acho que estou numa fase meio desencantada, mas me pergunto. Será que num mundo de mídia onde rolam tantos milhões de euros é tão difícil inventar um slogan que preste?  Se Lamartine Babo fosse vivo, ele entregava 32 frases impecáveis, em troca de um salário-mínimo, uma média de café-com-leite e um pão com manteiga. E o mundo onde isso acontecia era melhor do que o nosso.


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