quinta-feira, 15 de maio de 2014

3498) Palavras intraduzíveis (14.5.2014)



(alemão: "Uma cara que tá pedindo pra levar um murro")

Este saite (http://tinyurl.com/qbl6zgw) tem 23 ilustrações interessantes baseadas num conceito que sempre me fascina: palavras que existem numa língua mas não em outras. A gente tem a noção meio ingênua de que para tudo existe uma palavra específica, mas a verdade é que toda língua tem termos que só podem ser traduzidos com longas explicações e circunlóquios. Eis alguns exemplos:

Fernweh (alemão) – sentir saudade de um lugar onde nunca se foi. 

Papakata (Ilhas Maori) – ter uma perna mais curta do que a outra. 

Tingo (ilha da Páscoa) – furtar gradualmente todas as posses de um vizinho, apenas pedindo emprestado e não  nãnão não o devolvendo. 

Tsundoku (japonês) – o ato de deixar um livro sem ler, depois de comprá-lo, tipicamente guardando-o junto a outros livros na mesma condição. 

Waldeinsamkeit (alemão) – a sensação de estar sozinho num bosque.

Pochemuchka (russo) – uma pessoa que faz muitas perguntas. 

Aware (japonês) – a sensação doce-amarga de um momento breve e passageiro de beleza transcendental. 

Gattara (italiano) – uma mulher idosa e sozinha que se dedica a gatos perdidos. 

Won (coreano) – a relutância, da parte de uma pessoa, de abandonar uma ilusão. 

Ilunga (tshiluba) – uma pessoa disposta a perdoar qualquer tipo de abuso pela primeira vez, tolerá-lo uma segunda vez, mas nunca uma terceira. 

Prozvonit (tcheco) – o ato de ligar para um celular e dar apenas um toque, para que a outra pessoa ligue de volta, fazendo-nos economizar dinheiro ou créditos.

Note-se que não é a sensação ou a idéia que são intraduzíveis, pelo contrário, em geral são noções que entendemos facilmente. Mas não temos uma única palavra para exprimir essa idéia. Mais ou menos. A pessoa que tem uma perna mais curta do que a outra é chamada no Nordeste de “29-30”, não sei porque (talvez para indicar numericamente a pequena diferença entre as duas). Gente que faz muitas perguntas é “perguntador”. Nos outros casos (e nos demais termos que não transcrevi aqui), não tem jeito, é preciso uma descrição. Não temos palavras diretas.

Esta é uma das muitas questões delicadas que um tradutor precisa enfrentar, porque mesmo uma língua tão familiar a nós como o inglês está cheia de pequenos substantivos ou verbos que lá são usados com toda naturalidade mas para os quais o português não se deu o trabalho de criar um equivalente em escala 1:1.  Quando um termo assim aparece, obriga-nos a alongar explicativamente uma frase que tinha outro ritmo, outro formato, outra intenção. Às vezes até passa, com autores de prosa mais diluída e extensa; mas naqueles prosadores onde tudo é exato, tudo é compacto, tudo é ritmicamente encaixado e preciso... aí o bicho pega.


2 comentários:

  1. Oi, ainda sobre a palavra "Papakata (Ilhas Maori)", o equivalente no português poderia ser "coxo", não?

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