Eu geralmente leio por prazer, o prazer antecipado de quem compra um livro já prevendo que vai gostar (pelo autor, pelo tema, etc.). Quando essa expectativa não se confirma, largo o livro e pego outro. Se não estou gostando, não forço. Isto não se aplica, é claro, às leituras de trabalho. Se quero um conto de Fulano numa antologia minha, geralmente leio um livro inteiro dele, 15 ou 20 contos, para escolher o mais adequado. Nem todos são bons, mas meu interesse ali é conhecer melhor Fulano, “sentir a mão” dele como escritor, avaliar suas qualidades e suas limitações.
Jorge Luís Borges tem um texto famoso sobre o prazer de ler,
repetido em numerosas coletâneas. Diz
ele: “Fui professor de literatura inglesa por vinte anos na Faculdade de
Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires e sempre aconselhei a meus
alunos: se um livro os aborrece, larguem-no; não o leiam porque é famoso, não
leiam um livro porque é moderno, não leiam um livro porque é antigo. Se um
livro for maçante para vocês, larguem-no; mesmo que esse livro seja o Paraíso
Perdido – para mim não é maçante – ou o Quixote – que para mim também não é
maçante. Mas, se há um livro maçante para vocês, não o leiam: esse livro não
foi escrito para vocês.”
É engraçado, porque eu digo o contrário. Borges não falava
no contexto brasileiro de hoje. Talvez seus alunos fossem obrigados a ler
Sêneca e Ovídio no original, sem poder criticá-los. Hoje, porém, a situação é outra. Os jovens são desestimulados ao
esforço intelectual e empurrados para um entretenimento sem fim. Deveria aparecer um Borges que lhes
dissesse: “Galera, vocês estão fazendo poupança com dinheirinho de Banco
Imobiliário. Quando precisarem, nada terão. Esse entretenimento passa sem
deixar marcas, a não ser a resposta automática diante de clichês e de situações
já conhecidas... E esse cansaço-prévio mental diante do novo, do diferente, do
difícil.”
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