Ela se esgueira por entre as pernas da multidão e passeia
encantada com tantas luzes e cores. Entende que está havendo festa, e quer
participar. Aqui e ali jogam-lhe um osso de galinha, um resto de hot-dog que
ela abocanha antes que chegue ao chão. Passa invisível e célere, vendo tudo com
olhos compreensivos.
Vê madames grisalhas com xales e chapéus de palhinha enfeitados de flores, fotografando os barcos a oscilar no rio. Jovens casais de mãos dadas e olhares paralelos. Vendedores de churros e de cordéis. Músicos de rua tentando tocar mais alto do que a algaravia dos grupos que passam diante deles e sorriem sem escutá-los.
Baleia ergue as orelhas e recebe a música; entende o riso largo no rosto do rapaz cabeludo, de chapéu, cigarro oblíquo na boca. Ela sabe quando alguém está feliz.
Vê madames grisalhas com xales e chapéus de palhinha enfeitados de flores, fotografando os barcos a oscilar no rio. Jovens casais de mãos dadas e olhares paralelos. Vendedores de churros e de cordéis. Músicos de rua tentando tocar mais alto do que a algaravia dos grupos que passam diante deles e sorriem sem escutá-los.
Baleia ergue as orelhas e recebe a música; entende o riso largo no rosto do rapaz cabeludo, de chapéu, cigarro oblíquo na boca. Ela sabe quando alguém está feliz.
Baleia vai se esquentar na banda ensolarada da Praça da
Matriz, a meia distância das pessoas de papelão colorido penduradas em arames,
dos pés-de-livros. Passam professoras tangendo bandos de crianças rumo a um
circo azul. Homens rosados, de barbas muito brancas, caminham devagar, sempre
sorrindo, principalmente quando falam sozinhos segurando algo junto à orelha.
Na ponte embandeirada, grupos se cruzam indo e voltando, apontando para coisas que Baleia procura em vão com seus olhos obedientes. Um estralejar de rojões bem perto a faz dar um pulo e sumir correndo por entre as tendas de doce e de pipoca.
Na ponte embandeirada, grupos se cruzam indo e voltando, apontando para coisas que Baleia procura em vão com seus olhos obedientes. Um estralejar de rojões bem perto a faz dar um pulo e sumir correndo por entre as tendas de doce e de pipoca.
Agora é de noite. As ruas estão escuras e brilhantes, os
restaurantes estão mais cheirosos, o movimento aumentou. Já não se ouve o
cloc-cloc das charretes com seus cavalos imprudentes que não respeitam o
direito de ir-e-vir dos cães.
A música recrudesceu, e Baleia já sabe que onde músicas são tocadas paira uma exaltação boa e as possibilidades de osso de galinha aumentam. Ela cruza a ponte. Para diante da entrada de uma tenda gigante, cavernosa, onde ressoam vozes pausadas e cultas através de alto-falantes. Todos os dias os humanos, sempre tão agitados, se organizam em filas pacientes para ter acesso ao que ocorre lá dentro.
A música recrudesceu, e Baleia já sabe que onde músicas são tocadas paira uma exaltação boa e as possibilidades de osso de galinha aumentam. Ela cruza a ponte. Para diante da entrada de uma tenda gigante, cavernosa, onde ressoam vozes pausadas e cultas através de alto-falantes. Todos os dias os humanos, sempre tão agitados, se organizam em filas pacientes para ter acesso ao que ocorre lá dentro.
Seus olhos estão acostumados a ver aquelas formiguinhas pretas inscritas por toda parte, e percorrem aquelas linhas, cujo sentido está quase ao seu alcance, até que se detêm na derradeira palavra. Um frêmito atávico, genético, ativado por milênios de simbiose, relampeja em seus neuroniozinhos e Baleia assoletra: “P-r-e-á-s...”. Preás! Sua cauda sorri de reconhecimento. Preás! A vida presta.