(Conan Doyle, por Charles Burns)
Muitas
vezes um artista e o seu público têm opiniões diferentes sobre o trabalho dele.
Ele quer ser reconhecido como o autor de “A”, mas o público só se interessa por
outro trabalho dele, “B”, a ponto de irritá-lo.
Às vezes um artista de muito sucesso popular tenta se blindar dizendo que na verdade gostaria de ”fazer algo mais sério”, por exemplo – ser artista de vanguarda. George Lucas diz que o sucesso de Star Wars o pegou de surpresa, e que na verdade gostaria de estar fazendo filmes cabeça para passar no circuito universitário.
Caetano Veloso diz no livro Verdade Tropical que seu melhor disco, o que exprime o que ele gostaria de fazer, é Araçá Azul, seu disco mais experimental, e o mais rejeitado pela crítica e pelo público.
Às vezes um artista de muito sucesso popular tenta se blindar dizendo que na verdade gostaria de ”fazer algo mais sério”, por exemplo – ser artista de vanguarda. George Lucas diz que o sucesso de Star Wars o pegou de surpresa, e que na verdade gostaria de estar fazendo filmes cabeça para passar no circuito universitário.
Caetano Veloso diz no livro Verdade Tropical que seu melhor disco, o que exprime o que ele gostaria de fazer, é Araçá Azul, seu disco mais experimental, e o mais rejeitado pela crítica e pelo público.
Lendo
sobre Mark Twain, o criador de heróis popularíssimos como Tom Sawyer e
Huckleberry Finn, além de inúmeros contos de humor lidos e relidos há mais de
um século, vi que ele escreveu um livro chamado Personal Recollections of
Joana of Arc (1897) que ele considerava sua obra prima. Não só ele: seu amigo
William Dean Howells e seu biógrafo Albert Pigelow Paine diziam tratar-se de
sua “suprema expressão literária”, o livro que iria imortalizá-lo.
Ninguém conhece esse livro hoje; eu mesmo, que leio Twain há 50 anos, não sabia sobre ele. Sumiu. Ninguém se interessou, por melhor que seja.
Ninguém conhece esse livro hoje; eu mesmo, que leio Twain há 50 anos, não sabia sobre ele. Sumiu. Ninguém se interessou, por melhor que seja.
É
um caso parecido com o de Conan Doyle, que queria ser o continuador dos
romances históricos de Walter Scott, e pode-se dizer que o conseguiu, com
excelentes romances medievais (Sir Nigel, A Companhia Branca), sobre a
época vitoriana (Rodney Stone), a corte de Luís XIV e a migração dos
huguenotes para as pradarias da América (Os Refugiados), as fanfarronices e a
coragem dos oficiais napoleônicos ("Brigadeiro Gerard”). Escreveu excelentes
romances de FC (O Mundo Perdido, O Veneno Cósmico).
Mas o público não queria saber disso. Só queria saber de Sherlock Holmes, o que irritava profundamente o escritor.
Mas o público não queria saber disso. Só queria saber de Sherlock Holmes, o que irritava profundamente o escritor.
Ele conseguiu seu objetivo de inscrever seu nome na literatura do século 19. O público foi quem acabou desviando sua obra e sua fama noutra direção, porque com o detetive de Baker Street ele ajudou a fundar, meio sem querer, e sem dar-lhe muita importância, o romance policial, o gênero mais popular do século 20.