O Realismo Socialista era uma literatura que se propunha
a reproduzir “personagens típicos em situações típicas”. Para evitar o
individualismo burguês (a ficção centrada em heróis individuais) e a alienação
das vanguardas (cujas obras falavam de um mundo que só o autor entendia) o
Realismo Socialista pretendia ser um retrato cru e sincero da sociedade. Queria
mostrar “a vida como ela é”. Ora, a vida é mais complexa do que qualquer
fórmula. O Realismo Socialista produzia tipos e lhes dava nomes; os tipos nunca
pareciam com gente de verdade, e sim com caricaturas ideológicas.
Lembro sempre disto quando vejo essas novelas de TV onde
os autores, geralmente sujeitos que ganham 100 mil reais por mês e moram num
condomínio da Barra da Tijuca, tentam reproduzir o modo de ser, de vestir, de
falar e de agir dos pobres, ou, mais precisamente, da classe C+, C-, D+ e
demais tabulações alfabéticas baseadas no número de eletrodomésticos existente
em cada lar.
A obrigação de mostrar como se comportam os pobres produz
uma novela em que o pobre tem que ser um Símbolo de Pobre em cada diálogo, em
cada gesto, em cada peça de roupa. Tudo tem que convergir para essa idéia. Se
Fulano pertence ao “núcleo pobre” da novela, tem que usar somente palavras e
expressões de pobre, ter idéias de pobre, emoções de pobre. Cada personagem
vira um cabide de atributos. Não se comporta como uma pessoa, e sim como um
aglomerado de clichês que de tão redundantes acabam sendo contraditórios, como
se aquela pessoa tivesse a idéia fixa de ser pobre 24 horas por dia.