Ariano fez uma comparação muito perceptiva entre Augusto dos
Anjos e Garcia Lorca, talvez um dos últimos poetas com quem alguém compararia
Augusto. Lorca era de um vitalismo, uma exuberância, uma alegria de viver, uma
sensualidade e uma extroversão que nada têm a ver com o poema do tamarindo. Mas Ariano observou que ambos são poetas
muito mais da imagem do que do conceito. Embora a poesia de Augusto abra muito
espaço para o conceito (as reflexões científicas, metafísicas, etc.), ele é tão
visual quanto Lorca. Igualmente hábil na conjuração de imagens inesperadas, vívidas,
desconcertantes e inesquecíveis. Ariano se referiu ao famoso verso: “Somente a
ingratidão, esta pantera, foi tua companheira inseparável...” e disse brincando
que plagiou essa pantera de Augusto a vida inteira.
Ele citou também a quadra famosa de “Queixas Noturnas”:
“Quem foi que viu a minha Dor chorando? / Saio. Minh’alma sai agoniada. / Andam
monstros sombrios pela estrada / e pela estrada, entre estes monstros, ando!”.
Ariano usou este verso num dos sonetos (“A Estrada”) do seu ciclo de “iluminogravuras”.
Estes versos me lembram um poema dramático de Guerra Junqueiro em que um
peregrino caminha pelo mundo rodeado de monstros. Cada vez que ele reza, os
monstros tornam-se mais diáfanos, menos materiais, e cada vez que sua fé
fraqueja os monstros se revigoram. (Não encontrei este texto na Internet – vou
ter que procurar numa biblioteca de verdade.)