Começar bem um livro é meio caminho andado, e alguns
começam tão bem que seu trecho mais famoso acaba sendo a frase inicial (o que,
aliás, me deixa sempre em dúvida quanto à qualidade de todo o resto do
romance). Não posso deixar de indicar os modelos de sempre: Cem Anos de
Solidão, Um Conto de Duas Cidades, O Processo, Lolita, Grande Sertão:
Veredas, Gravity’s Rainbow, Neuromancer...
O saite Infoplease (http://bit.ly/19jCNAR)
publicou uma lista dos “100 Melhores Começos”, que relaciona todos estes e mais
alguns. O que é uma boa chance para conhecer novidades. Toni Morrison começa
seu Paradise dizendo: “Eles atiraram primeiro na garota branca”. É o tipo da
abertura que me faz anotar mentalmente o livro e pegá-lo na primeira
oportunidade para ler pelo menos a primeira página. Sempre é bom começar uma
história “in media res”, no meio dos acontecimentos. A coisa arranca tão rápido
que o leitor fica com medo de pular fora e torcer o tornozelo.
Simpatizei com o espanhol Filipe Alfau, que começa seu
Chromos com: “No momento em que alguém aprende inglês, começam as
complicações”. E com a desconhecida Anita Brookner que, de certo modo, o ecoou
em The Debut: “Aos 40 anos, a Dra. Weiss sabia que sua vida tinha sido
arruinada pela literatura”. Num outro diapasão não há como não dar um pulo na
poltrona ao ler a abertura de The Crow Road de Iain M. Banks: “Foi no dia em
que minha avó explodiu”.
A abertura nos joga de corpo inteiro na história, seja
com o flash de uma época ou de uma paisagem, seja com o retrato instantâneo do
protagonista ou de um personagem qualquer, cuja vividez nos serve de isca para
continuar lendo o resto.
No rol deles, a classificação de Ray Bradbury/Fahrenheit 451 é injusta: "Queimar era um prazer." deveria vir entre os 10 primeiros.
ResponderExcluirPuxa, pensei que a frase inicial do primeiro livro da série "A Torre Negra", de Stephen King, estaria nessa lista: "O homem de preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás".
ResponderExcluirE, apesar de não ser um livro, o primeiro filme da sextalogia Star Wars é bem “in media res”, né? Excelente artigo, Tavares!