domingo, 17 de novembro de 2013

3346) Mistérios do Facebook (17.11.2013)






(by Eduardo Salles)



Uma das coisas mais fascinantes das redes sociais é o fato de que, quando temos um número grande de seguidores ou amigos, temos direito a vislumbres rapidíssimos e enigmáticos da vida de pessoas que conhecemos só superficialmente, ou que nem fazemos idéia de quem são. 

Parece uma lei-não-escrita dessas redes que cada um de nós é livre para postar o que bem entender; mas, devido ao excesso de exposição pública, é melhor não ser demasiado explícito. 

Vai daí que as redes sociais são um terreno fértil para a Insinuação, a Indireta, a Vagueza Proposital, a Alfinetada Sutil, a Cotovelada de Quem Não Está Mais Aqui, a Ameaça Pública Velada, o Queixume Com Destino Certo...

Você vai correndo a tela, olha aqui, olha acolá, e de repente se depara com alguém que posta: “Muita gente pensa que só quem cai pra baixo é a chuva, mas não perde por esperar!”. 

Como sou um cara meio paranóico, tudo que leio penso que é comigo, até as quadras de Nostradamus. Aí, verifico direitinho quem é a pessoa, peço ao Facebook para exibir nossa amizade, acabo me tranquilizando. Não é comigo. 

Mas quando retorno à página, um sujeito de má catadura acabou de postar: “De falsos intelectuais este Facebook está cheio, mas tudo bem, isso me dá motivos para gargalhadas, e faz bem à saúde!”. Recuo, desconcertado. Que mal fiz eu ao barbudo para ele me chamar de pseudo-intelectual? Meia hora para me auto-dissuadir, para me refazer.

Você se distrai com as postagens de uns e de outros, este aqui indicando um clip de erros de continuidade no cinemão blockbuster, outro mostrando um número ao vivo de Django Reinhardt, outro com a lista dos dez gols mais bonitos na votação da Fifa... O mundo vira um parque de diversões inofensivo, ou uma confeitaria onde as guloseimas são de graça e não empanturram. 

Mas de repente, surge aquela postagem lacônica de alguma senhora: “Uma certa pessoa deveria tirar o cavalinho da chuva pensando que está com a bola toda. Não está não, mas vai descobrir da pior maneira possível”. Meu dia desmorona. O que foi que eu fiz a essa postante? Nem reconheço o nome! 

Clico, verifico a foto, a verdade é que nunca a vi mais gorda, tenho até vontade de comentar seu post dizendo isso, mas se ela já está belicosa é capaz até de levar a mal.

O que me salva são os mistérios positivos. Uma moça posta: “Tiiinnn-tiiinnn... Gente, não caibo em mim (é caibo que se diz? Xapralá!), estou com uma novidade ma-ra-vi-lho-sa mas por motivos óbvios não posso tornar público ainda. # felizdavida”. 

Continuo sem saber quem é, o que será que lhe aconteceu; mas a luz alheia também nos ilumina, e por essa noite vou dormir feliz.








2 comentários:

  1. Saudades de um período sem Celular, sem Twitter, nem Facebook, mas pleno de afetos verdadeiros...

    Triste presente, esse de palavras e amores obsoletos, onde temos que “ tuitar ” todo o nosso sentimento em 140 caracteres. Triste presente, esse de janelas de Facebook, a sugerir amigos. Amigos sem tempo, apressados e reticentes. Números! Tempo triste, esse, de estatísticas para medir afeto, carinho e amizade. Um milhão de amigos, no entanto, uma solidão doída, não partilhada.

    Gostei do seu espaço. Voltarei mais vezes. Bjs

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  2. O conceito de mundo sempre me bate à porta no domingo pela manhã, alguns são tão frequentes que já abrem a porta da geladeira, fecham com o calcanhar e aproveitamos as sobras do almoço pra encerrar o domingo com um mexidão de tudo que não se esqueceu de segunda-feira para cá.

    Os mais frequentes estão relacionados ao capitalismo, à política, à música, à religião e à felicidade. Por vezes, a religião e o capitalismo se misturam, ou a política e a religião e o capitalismo, ou a música e o capitalismo e a política e a religião, quando o capitalismo ocorre forma um bolo alimentar picante. Essas semanas atípicas não me permitem sentir todos os mil sabores dos mil eventos transcorridos da memória semanal: resultando em uma azia domingueira que nem boldo, nem São Jorge resolvem.

    Exemplo mercadológico vivido: A bíblia evangélica com promessas em curto prazo em poucas prestações; a católica com promessas em longo prazo, contudo com juros menores e menos abusivos; a espírita apostando no capital de giro, mas sofremos o risco de um mau investimento recair sobre nossas as futuras ações. Eu pergunto a esse tipo conceito: tudo é dinheiro? O homem se realiza no contracheque? É de se imaginar que estes domingos não terminem muito bem.

    O último conceito que eu recebi estava tão estranho, nem parecia comigo. Eu perguntei quem era e me respondeu que era Quem Eu Queria Ser Se Eu Tivesse Sido. Esse tipo de conceito é agoniante, ficou comigo várias semanas fechando e abrindo portas, no fim não sabia se eu estava dentro ou se estava fora de minha própria casa. “Chega!”- Eu me disse- “eu sou eu mesmo, até não sendo”.

    Nós rimos até! E foi embora levando, com o cogito, parte minha que seria minha se eu tivesse sido, chorei.

    Agora a felicidade, eu e a felicidade temos muito em comum: acreditamos na eternidade, odiamos a segunda-feira; não aceitamos promessas de salvação, nem de loteria, porque estamos salvos e muito ricos de vontades. E mesmo lutando contra moinho-de-ventos e a segunda-feira sempre chegue, não nos esquecemos da simplicidade. Convidamos Louis Armstrong, pois apesar de apenada semana: What a wonderful world.. I see friends shaking hands, saying… "how do you do?".

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