(Prêmio Argos)
No fim de semana passado fui a São Paulo para o VII
Fantasticon, o evento anual de literatura fantástica organizado por Sílvio Alexandre
na Biblioteca Viriato Corrêa (em Vila Mariana), a biblioteca municipal dedicada
ao gênero. Participei de dois debates: sobre Julio Cortázar, na companhia de
Marcelino Freire, e sobre cyborgs, junto com Luiz Bras. Recebi o Prêmio Argos,
concedido pelo CLFC (Clube de Leitores de Ficção Científica), pelo “Conjunto da
Obra”. Agradeci ao clube, sem o qual não teria jamais me animado a escrever e
publicar contos do gênero. E dediquei o prêmio a dois dos meus primeiros
editores na FC: Sérgio Fonseca de Castro (que me publicou na antologia Verde... Verde..., 1988) e Roberto Nascimento, que publicou no fanzine Somnium os primeiros contos que iriam constituir meu livro A Espinha Dorsal
da Memória, de 1989.
O mais interessante para mim, este ano, foi ver que o evento
está ampliando as áreas de contato entre os três gêneros que geralmente
aparecem juntos nos critérios de classificação dos países de língua inglesa
(FC, fantasia e horror) e o fantástico considerado do ponto de vista da
literatura “mainstream”. Eu já fiz palestras no Fantasticon sobre o fantástico
em Guimarães Rosa e em Ariano Suassuna, e sobre a FC de William Burroughs; este
ano, vi (entre outras mesas) Ignácio de Loyola Brandão e Manuel da Costa Pinto
comentando o realismo fantástico da revista Planeta, e Jorge Schwarz e Andréa
del Fuego discutindo a obra de Murilo Rubião.
Acho que este é um estímulo importante para contrabalançar
as pesadas doses de literatura-de-gênero em língua inglesa que são a principal
leitura do fã e pretendente a escritor do gênero no Brasil. Vejo jovens que
leem centenas de contos de FC/fantasia/horror em inglês e não têm idéia de que
são Guy de Maupassant, José J. Veiga, Hoffmann, Borges, Ítalo Calvino,
Stanislaw Lem, Garcia Márquez, e tantos outros. Correm o risco de, mais do que
leitores de um gênero, tornarem-se leitores de meia dúzia de fórmulas. E quando
começam a escrever, reproduzem essas fórmulas, que já eram velhas quando eles
nasceram, e onde é preciso ser muito sagaz e experiente para inventar uma variante
realmente nova.
Quando eu falei a um amigo, que você fazia sci-fi,ele ficou admirado que um escritor Brasileiro escrevesse esse gênero.
ResponderExcluirDo jeito que você coloca, me faz entender que o gênero não é explorado por escritores. Que esses só o são quando se dedicam à literatura realista.. "Um escritor jamais escreveria algo desse gênero...". :)
ResponderExcluirEu concordo plenamente: não tem como fugir dos clichês já usados pelos gêneros se não ler os classicos do gênero. Se você só fica no atual ( que já é moido), fica muito dificil saber ousar. Não dá pra deixar de ler contos como Homem de areia e Horla. São textos e escritores primordiais pra formação de qualquer escritor.
ResponderExcluirTibor, não entendi. Claro que o gênero é explorado por escritores. Eu e você, p. ex. Mas eu defendo há décadas a aproximação entre FC e mainstream. Cada um tem qualidades que faltam ao outro. A FC tem mais imaginação e é mais atenta ao mundo atual; o mainstream tem séculos de know-how literário que um escritor profissional não deveria esnobar.
ResponderExcluirTibor não se ofenda.Mas você está me interpretando tão mal,quanto os evangélicos interpretam a bíblia.
ResponderExcluirIsso é o que faz no cinema o cineasta Las Von trien. Pega o filme dele Melancolia. É uma ficção cientifica, só que, não preso ao gênero, aproximou bastante dos filmes de arte, elevando assim o filme, que tem uma premissa toda ela voltada a ficção cientifica, elevou ao status, que só ficasse na ficção cientifaca jamais conseguiria. Tem outros como Dogville, que é um teatro, Anti cristo, que é horror. Todos trabalhando com genero, mas, sempre tendo uma aproximação ao cinema de arte, experimental, isto é, outras vertendes.
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