A lua cheia gerou jibóias paranóicas que infestaram os
planetas circundantes. As jibóias geraram triângulos, sendo que cada um deles
era uma catástrofe inteiramente evitável. Os triângulos geraram ametistas
falsificadas para os brincos das embaixatrizes e das cafetinas. As ametistas
geraram alfarrábios caducos e cada dia menos inteligíveis. Os alfarrábios
geraram Trombômega, elefante grego especialista em elefoas, gregas ou não.
Trombômega gerou muralhas ao seu redor, tão numerosas que ele sumiu até hoje.
As muralhas geraram um cíclotron de madeira que acelerava carunchos e cupins. O
cíclotron gerou um Minuto em forma de circunflexo, para o qual não se achou
utilidade. O minuto gerou uma espingarda que atirou no que é vil e matou o que
não é vil. O tiro gerou um trocadilho com gosto de pedido de socorro. O
trocadilho gerou um chofer de lotação com curso de kamikaze em Hong Kong. O
chofer gerou ovos de águia, urubu, borboleta. Os ovos geraram águias, urubus,
mas nenhuma borboleta. As águias e os urubus geraram a hesitação. A hesitação
gerou a brisa no oco das cavernas. A brisa gerou peixes oceanógrafos, centenários.
Os peixes geraram bigodes sem rosto e sem linguagem. Os bigodes geraram um
cogumelo metade fogo, metade fumaça. O cogumelo gerou sapos musculosos sob a
epiderme dos incautos. Os sapos geraram círios fúnebres que sobreviviam aos
seus fabricantes. Os círios geraram camas vazias e sonâmbulos exaustos. As
camas geraram chuva interminável, fizesse ou não fizesse sol. A chuva gerou
estradas sem raízes que viviam se mudando. As estradas geraram sepulturas
abertas, devorando os passantes. As sepulturas geraram relvas espinhosas e
ásperas como nervos secos ao sol. As relvas geraram gotículas de fumaça cor de
ferrugem. A fumaça reverteu às chaminés e gerou as mãos de um homem
trabalhando. As mãos geraram o resto do homem. O homem gerou flores que eram
como olhos. As flores geraram relâmpagos para conversar. Os relâmpagos geraram
imagens gravadas na abóbada celeste. As imagens geraram reflexos maiores nas
abóbadas maiores que as cobriam. Os reflexos geraram Deus. Deus gerou o Diabo
que se revoltou contra ele e gerou o homem. O homem se revoltou contra o diabo
e gerou o Sangue, que não é o sangue invisível de nossas veias. O Sangue gerou
um altar de gelo no meio de um deserto cercado de cidades por todos os lados.
No altar se gerou uma adolescente de rosto sem memória, e o seu sexo, e o
míssil intercontinental que a penetrou. E depois da apocalíptica explosão
surgiu nas bordas da cratera, empoeirado, tonto, e com as calças pelo avesso,
ele, o abominável homem dos trópicos, Trupizupe, o Raio da Silibrina.
um texto que poderia ter saído das xilogravuras e do universo fantástico de J.Borges. Gostei!
ResponderExcluirabraço,
Josenias S. Silva.