(Bombaim)
Volta e meia estão mudando o nome de alguma coisa. Nomear é
tomar posse, dizem as doutrinas cabalísticas. Então, existe um frenesi
constante, por parte de quaisquer poderes, para dar um novo nome a algo que já
existia. Quando a Revolução Francesa triunfou, mudou os nomes dos meses do ano,
que passaram a se chamar: Brumário, Floreal, Germinal, Termidor... A população
ficou atarantada com isso, e os legisladores danaram-se a promulgar o que bem
entendiam.
Na Paraíba existe um movimento permanente para trocar o nome
da capital João Pessoa por outro, que para alguns seria o antigo nome de
Parahyba, inclusive grafado assim. (Se a Bahia pode manter seu “h”, por que não
podemos recuperar nosso “hy”, que inclusive remete ao mito atlântico de
Hy-Brasil?). Drummond ironizou, em seu livro Brejo das Almas, os que queriam
mudar o nome dessa cidade, alegando que nada significava (conseguiram: o lugar
chama-se hoje Francisco Sá). Muitas dessas mudanças se pretendem modernizadoras
(trocar um nome cafona por uma denominação ligada ao “mundo de hoje”) ou
restauradoras (trazer de volta um nome tradicional).
Vale anotar as reflexões de Suketu Mehta em seu livro
Bombaim, cidade máxima (Cia. Das Letras, 2011), a respeito da mudança (de
natureza política) de Bombaim para Mumbai, em 1995:
“A mudança de nome está em voga em toda a Índia: Madras
chama-se Chennai; Calcutá, essa cidade construída pelos britânicos, mudou de
nome para Kolkata. Um parlamentar do BIP exigiu que o nome da Índia seja
trocado para Bharat. É um processo não apenas de descolonização, mas de
desislamização. (...) Um nome tem tal natureza que, se crescemos com ele, a ele
nos apegamos, seja qual for sua origem. Fui criado em Nepean Sea Road ,
atualmente Lady Laxmibai Jagmohandas Marg. Não tenho idéia de quem foi Sir
Ernest Nepean, assim como não sei quem foi Lady Laxmibai Jagmohandas, mas me
apeguei ao nome original, e não entendo a razão da mudança. O nome adquirira
uma ressonância, com o passar do tempo, distinto de sua origem. (...)
Acostumei-me ao som do nome. Está incorporado no meu endereço, na minha vida
sonhada”.
mt bom
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ResponderExcluirA primeira coisa que me veio à mente, embora não esteja diretamente ligada ao que se fala por aqui, foi a canção do Caetano Veloso pela Maria Bethânia, O Nome da Cidade. É um discurso filosófico musical que, no fim das contas, desemboca no mesmo mar de textos. Eis o dilúvio entre nós, estanques de pensares. ai ai ai... rrsrsrsrs
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