O que há em comum entre esses dois escritores, além do fato
de que estão entre os primeiros que li, e os mais queridos? Uma porção de
coisas. Ambos foram escritores com uma
obra para adultos séria e relevante, mas acabaram se tornando famosos como
autores para jovens, em função de seus livros de maior sucesso. A imensa
maioria dos que os conhecem leram apenas essas obras infanto-juvenis e
desconhecem seus livros mais complexos.
Monteiro Lobato é famoso pela sua série de romances do Sítio
do Picapau Amarelo, mas só é conhecido no Brasil. Às vezes imagino o susto e o
maravilhamento de meninos ingleses, japoneses, norte-americanos, quenianos, se
pudessem ler boas traduções dessas obras e conhecer um mundo de surpresas
inesgotáveis. Mark Twain escreveu alguns livros com as aventuras de Tom Sawyer
e Huckleberry Finn, dois garotos rurais num ambiente mais realista do que o de
Lobato, mas igualmente divertido. Aliás, Lobato fez adaptações de livros de
Twain para a Editora Brasiliense, e talvez tenha sido através dele que muitos
brasileiros conheceram o norte-americano.
Ambos tiveram flertes com a ficção científica. Lobato com o
histórico O Presidente Negro (1926) e alguns volumes infantis (A Chave do
Tamanho, Viagem ao Céu, A Reforma da Natureza); Twain com Um Ianque na
Corte do Rei Artur (1889), uma história clássica de viagem no tempo, mesmo que
sem explicação técnica de como isso aconteceu, e numerosos contos já reunidos
em coletâneas. Ambos tiveram interesse pelo lado prático da literatura: Lobato
criando a Companhia Editora Nacional e outros empreendimentos semelhantes, e
Twain investindo todo seu dinheiro (e dos amigos) numa máquina impressora que
pretendia concorrer com o linotipo. (Ambos deram com os burros nágua e perderam
fortunas.)
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