Erguem-se clarins luminosos e dourados vibrando em
uníssono. Poeira cáustica como pimenta do reino. Cheiro de suor, de fumaça de
cigarros, de cintos e botas de couro. As grades se erguem rangendo numa raiva
de ferrugens descascadas, o peso de anos de remorso e sangue. E da escuridão
brota a criatura, minotauro mutante regredido a pura fera, bufando embrutecido
pelas narinas frementes, escarvando as lajes da passagem com cascos
expectantes. Ele sente lá fora o bafo do mormaço ensolarado, escuta o rugido de
triunfo carniceiro que o provoca; agita com raiva o pescoço, e arranca.
Massa compacta de carne, tonelada titânica, uma bala de
canhão que dispara a si própria. Dois chifres sólidos como basalto, cada um
deles com uma força de golpe equivalente à de um safanão de baleia azul. Por
baixo deles, dois olhos miúdos de miúra enfurecido à procura de um alvo para
sua última chifrada mortal. Até que ele enquadra o vulto esguio em trajes
dourados, desdobrando à sua frente um borrão escarlate.
O que se segue é uma caçada, um intercurso, um balé, como um
tubarão dando bote no anzol que se esquiva e negaceia. A mancha rubra da capa
que se estende, se recolhe, drapeja, agita-se, roça com zombaria aquela
cordilheira de músculos. O namoro entre a tempestade e o para-raios. O sol
flameja cegante na espada desembainhada, uma labareda de luz pronta para
fulminar. Os gritos ficam mais
ansiosos, ofensivos, como que cobrando um prazo. A lâmina. O animal. Os dois evoluem,
dançam, cada qual submetido a um conjunto diferente de equações, trajetórias,
impulsos, peso específico, massa inercial; pilotados em parte por si mesmos e
em parte por uma inteligência esquizóide que os contrapõe um ao outro e a si
mesma, como um só enxadrista que manipule as brancas e as pretas.
Se o Papa Ernest não é pop que seja então pop-up...
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