O episódio aconteceu na Islândia e desta vez não é invenção
minha, aconteceu mesmo.
Um grupo de turistas, de ônibus, percorria a região
vulcânica de Eldgja, no sul do país. A
certa altura, quando o grupo, depois de um passeio a pé, retornou para o
ônibus, alguém deu pela falta de uma passageira, que havia saído junto com os
outros mas não voltara. Olharam em torno, examinaram a estrada, o motorista
buzinou, e nada da mulher aparecer.
Como a região é vulcânica, todos se
preocuparam – ela poderia ter caído numa cratera, desmaiado devido aos gases,
etc. O motorista pegou o microfone, e, no inglês previsivelmente carregado que
se usa em qualquer país ocidental, explicou a todos do que se tratava, e deu
uma breve descrição da mulher desaparecida: asiática, cerca de 1,60m de altura,
falando bem inglês, vestindo roupa escura.
O serviço de emergência local foi acionado, e os demais
passageiros do ônibus juntaram-se à busca pela mulher, percorrendo de novo os
caminhos que tinham trilhado durante o dia. Cerca de 50 pessoas, ao todo,
passaram a noite examinando aquela área, munidos de lanternas, aflitos porque
com o passar do tempo aumentava a possibilidade de que algo mais grave tivesse
acontecido.
A notícia (que colhi no saite Wanderlust, em: http://bit.ly/T1qqOp) informa apenas os fatos,
mas posso usar a imaginação para dizer que entre os ansiosos buscadores havia
uma senhora, também passageira da excursão, que a princípio estava tão preocupada
quanto os demais, mas foi se tornando mais hesitante e dubitativa à medida que
as horas se passavam. Enquanto todos iam aos poucos cedendo ao cansaço, ao
pessimismo e já a uma certa resignação diante do inevitável, ela ficava mais
inquieta, deixando transparecer um misto de angústia e confusão.
E a certa
altura, lá pelas 3 da madrugada, chamou
de lado alguns passageiros que vinham sentados em poltronas próximas, no
ônibus, e fez um discreto interrogatório. Ao ouvir-lhes as respostas, soltou
uma exclamação de desabafo, e abraçou-se com eles, nervosa: “Então sou eu!”.
A
literatura existencialista, por mais que se esforçasse, não conseguiu produzir
uma parábola tão cristalina sobre os bugs embutidos no software da vida humana.
Credo quia absurdum.
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