Não sei se foi Jorge Luís Borges quem inventou a biografia literária como gênero da ficção (Pierre Menard, Herbert Quain, etc.), mas o chileno Roberto Bolaño produziu um dos mais saborosos e intrigantes títulos desse gênero: A Literatura Nazista nas Américas (1996). Não sei se já saiu no Brasil.
[ Saiu agora, pela Companhia das Letras, em tradução de Rosa Freire d'Aguiar. ]
É uma coletânea de biografias curtas de 30 escritores de variadas tendências direitistas. Os capítulos variam entre duas e trinta páginas. A imaginação de Bolaño é notável, mas mais notável ainda é seu olho jornalístico: os personagens que ele descreve são caricaturas ou esboços descritivos de escritores em que a gente esbarra em qualquer esquina.
Há por exemplo os irmãos Ítalo e Argentino Schiaffino, chefes
da torcida organizada do Boca Juniors, envolvidos com gangsters, celebrantes da
violência física e da briga de rua, e colocando a culpa de todos os problemas
do país na burguesia judaica e nos intelectuais comunistas.
Há o plagiador inveterado Max Mirebalais, haitiano, cuja obra é uma gigantesca antologia de autores obscuros cujos poemas ele copia e assina.
Há a socialite argentina Luz Mendiluce Thompson, cuja maior honra foi ter posado nos braços de Hitler quando era bebê e sua mãe visitou a Alemanha.
Há o norte-americano Zach Sodenstern, autor de romances de ficção científica sobre o super-herói Gunther O’Donnell, que é acompanhado por seu cão, “um pastor alemão mutante, com poderes telepáticos e tendências nazistas”.
Há o poeta Rory Long, que cultiva a poesia falada e funda a Igreja Carismática dos Cristãos Californianos.
Há a poetisa mexicana Irma Carrasco, que afirmava estar “apaixonada por Deus, pela Vida, e pela Nova Aurora Mexicana, à qual se referia indiscriminadamente como ‘ressurreição’, ‘despertar’, ‘sonho’, ‘apaixonar-se’, ‘perdão’ e ‘casamento’”.
Há o plagiador inveterado Max Mirebalais, haitiano, cuja obra é uma gigantesca antologia de autores obscuros cujos poemas ele copia e assina.
Há a socialite argentina Luz Mendiluce Thompson, cuja maior honra foi ter posado nos braços de Hitler quando era bebê e sua mãe visitou a Alemanha.
Há o norte-americano Zach Sodenstern, autor de romances de ficção científica sobre o super-herói Gunther O’Donnell, que é acompanhado por seu cão, “um pastor alemão mutante, com poderes telepáticos e tendências nazistas”.
Há o poeta Rory Long, que cultiva a poesia falada e funda a Igreja Carismática dos Cristãos Californianos.
Há a poetisa mexicana Irma Carrasco, que afirmava estar “apaixonada por Deus, pela Vida, e pela Nova Aurora Mexicana, à qual se referia indiscriminadamente como ‘ressurreição’, ‘despertar’, ‘sonho’, ‘apaixonar-se’, ‘perdão’ e ‘casamento’”.
Seus “nazistas” na verdade não passam desses indivíduos que ouvem dez galos tecendo a manhã em diferentes pontos cardeais e querem descobrir todos ao mesmo tempo.
O único personagem realmente ameaçador é o último, Ramírez Hoffmann, que Bolaño retomou brilhantemente, com o nome de Carlos Wieder, no romance Estrela distante, já comentado aqui nesta coluna (http://bit.ly/SgYxoE).
Braulio, eis o link para baixar o livro do Bolaño, cuja edição está esgotada: http://mural.uv.es/jocaji/libros/bolano/Bola%F1o,%20Roberto%20-%20La%20literatura%20nazi%20en%20Am%E9rica.pdf
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