terça-feira, 1 de janeiro de 2013

3071) A Página de Fogo (1.1.2013)





Transporás o Pedregal ensandecido, dilacerando as Membranas do Ser e carpindo as incertezas de teu íntimo Semblante.  Pisa devagar nesta areia coberta de Presságios, para que não despertem as Sentinelas da Treva. Compulsa as nuvens, amealha os ventos.  Um espinho de dor fere o teu centro, e a lembrança de um Não será teu Sol.  À tua esquerda, o Campo-santo dos pássaros afogados; à tua direita, o Sumidouro para onde deslizaram os códigos do Setestrelo.  Seguirás sozinho, ou então te deixarás tombar, na Vereda vazia que te espera. E jamais conseguirás cerzir as Fendas do Passado onde o século se pôs. 

Cada minuto é fatal, e não existe um Elmo para a alma. Serás o Poço onde as tempestades se refugiam. Pensaste pureza e o que tombou em ti fervilhava em Pus. Avança!  Já deixaste para trás a Sesmaria da Punição, à qual sobreviveste, mas que conduzirás para sempre incrustada na Memória.  Só te resta pela frente o Pesadelo do Torvo Talismã, o futuro que em vão abjuraste mas com que os Fados te embeberam.

Ruma para a Neurópolis que te sequestrou a Mente. Lá, o Monstro é ubíquo, mutante.  Sua superfície é de celofane polarizado, frases de acrílico, raios catódicos. Mandalas de Odaliscas rodopiam ao som de tambores neuroniais. É uma criptobabel de signos minerais, um Templo à espera do Deus multicéfalo que o conquistará. Escorrem escamas de ouro pelos seus esgotos, e dos globos oculares de cada Gárgula pendem piercings em forma de Caduceu. Vai, ouve as multidões que se espremem nas ruas, por entre a Treva do Cataclismo; nenhum som cruza seus lábios em carne-viva senão o arquejo do Pandemônio.

Mergulha na Tisna e no Ácido desse crepúsculo de Sangue fuliginoso. Bebe o absinto que gorgoleja de suas Veias abertas com diamantes. Coloca teu pescoço entre as mandíbulas mecânicas do gramofone onde se escuta o vaticínio de suas Sibilas. O Monstro te espera para te trucidar e ressuscitar mil vezes, no Rito e na Pulsação dos Sabás perjuros. O Monstro rasga e se eleva à tua frente com o fragor tectônico de cordilheiras de Basalto e Obsidiana, olhos coruscantes de Acetileno, saliva bioluminescente de Moléculas em recomposição. Ele te focaliza mil olhos de mil formatos diferentes, e te recolhe com uma língua do tamanho de um Continente conflagrado. Aspira esse Hálito que corroerá teus pulmões pela última vez. O Corpo dele será a Sepultura perpétua onde passarás o resto da tua Eternidade. Em vez de garras ele tem baionetas, em vez de colmilhos tem câmaras de tortura com paus-de-arara e tronos-de-dragão – mas, nos desvãos mais úmidos de seu imenso corpo, a sua metade fêmea te amamentará com sexo, drogas e rock-and-roll. 

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