Foi o filme mais desconcertante e provavelmente o melhor que
vi este ano; não sei se muitos leitores terão chance de vê-lo, porque está em
cartaz numa das salinhas menores do Estação Botafogo. Dirigido pelo francês
Leos Carax, Holy Motors é uma sucessão de cenas bizarras amarradas por uma
estranha lógica, como acontece em filmes de Buñuel, David Lynch ou Emir
Kusturica. Não é bem um filme fantástico – com poucas exceções, as coisas
bizarras que mostra poderiam acontecer em nosso mundo, pois não violam as leis
naturais. Mas qual a probabilidade de um sujeito entrar num café atirando,
matar (aparentemente) um executivo de terno que está numa mesa com amigos, ser
morto (aparentemente) pelos seguranças da vítima, e depois ir embora como se
nada tivesse acontecido? É Buñuel puro,
e lembra aquela antiga frase de André Breton, de que o ato surrealista mais
simples seria empunhar um revólver e sair pela rua alvejando pessoas a esmo.
Ao longo de um dia e uma noite, Oscar (Dennis Lavant)
percorre Paris dentro de uma limusine branca cujo interior é um camarim com
espelhos, luzes, figurinos, maquiagem, etc. Ali dentro ele troca de rosto, de
cabelo, de roupa – e desce (depois de estudar um dossiê de informações) para
“encontros” que em geral são cenas surrealistas, insólitas. A cada novo
encontro, o espectador fica se perguntando qual o propósito daquilo tudo, até
porque as outras pessoas envolvidas dão mostras de serem, também, atores
interpretando papéis para aquela situação específica.
Braulio, depois de ler sua resenha no ano passado, tive que dar um tempo pra "esquecê-la". Apenas hj vi em dvd, e foi um arrebatamento só, simplesmente indescritível. Como diria o Millôr: Arte é intriga. (Agora reli a resenha, e renovei o prazer. Gracias, abração!)
ResponderExcluirFraga, estou com uma nota de 50 bem dobradinha na carteira para comprar esse DVD no instante em que puser os olhos sobre ele. (Os jovens baixam de graça, o que é todo um outro tipo de prazer perverso.)
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