(Manuel Bandeira)
Uma das coisas com que o
Modernismo mais incomodou a cena literária de sua época foi o seu recurso à
brincadeira, à galhofa, à paródia e à sátira.
Poetas de todos os tempos fizeram isso, mas traçavam um limite entre isso e a arte poética. Olavo Bilac e Guimarães Passos produziram centenas de versinhos satíricos, jocosos, maliciosos; mas não permitiram que eles fossem incluídos em seus livros “sérios”.
A poesia era uma espécie de templo onde só se entrava vestido a rigor. A poesia moleca, pornográfica, maledicente, descalça, suja, essa tinha que dormir na calçada. Não tinha direito ao teto de um livro.
Poetas de todos os tempos fizeram isso, mas traçavam um limite entre isso e a arte poética. Olavo Bilac e Guimarães Passos produziram centenas de versinhos satíricos, jocosos, maliciosos; mas não permitiram que eles fossem incluídos em seus livros “sérios”.
A poesia era uma espécie de templo onde só se entrava vestido a rigor. A poesia moleca, pornográfica, maledicente, descalça, suja, essa tinha que dormir na calçada. Não tinha direito ao teto de um livro.
Manuel Bandeira conta em suas
memórias como ele e os amigos se valiam de suas colunas em jornal para
incomodar os poetas (e os críticos) partidários da pomposidade, da gravidade,
da oratória vazia que na época era considerada o espírito poético mais
autêntico.
O jornal A Noite lhe pagava 50 mil réis por semana para colaborar na seção “O Mês Modernista”, onde Bandeira propunha, entre outras coisas, a tradução de poemas brasileiros em linguagem moderna.
O jornal A Noite lhe pagava 50 mil réis por semana para colaborar na seção “O Mês Modernista”, onde Bandeira propunha, entre outras coisas, a tradução de poemas brasileiros em linguagem moderna.
Ele dá como exemplo estes
versos de Joaquim Manuel de Macedo:
Mulher, irmã, escuta-me: não ames.
Quando a teus pés um homem terno e curvo
jurar amor, chorar pranto de sangue,
não creias, não, mulher, ele te engana!
As lágrimas são galas da mentira
e o juramento manto da perfídia.
Mulher, irmã, escuta-me: não ames.
Quando a teus pés um homem terno e curvo
jurar amor, chorar pranto de sangue,
não creias, não, mulher, ele te engana!
As lágrimas são galas da mentira
e o juramento manto da perfídia.
Bandeira propôs esta “tradução
em caçanje”:
Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você
e te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
se ele chorar
se ele se ajoelhar
se ele se rasgar todo
não acredita não Teresa
é lágrima de cinema
é tapeação
mentira
CAI FORA.
Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você
e te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
se ele chorar
se ele se ajoelhar
se ele se rasgar todo
não acredita não Teresa
é lágrima de cinema
é tapeação
mentira
CAI FORA.
“Piadas... (...) Por essas e outras brincadeiras estamos agora pagando caro, porque o ‘espírito de piada’, o ‘poema-piada’ são tidos hoje por característica precípua do modernismo”.
Bandeira, Drummond, Mário de Andrade fizeram poemas assim (Oswald não conta, porque quase que só sabia escrever assim), trazendo para o espaço sagrado do Livro de Poemas a fala bárbara da rua, o caçanje, a gíria, o brasilês.
E trazendo junto o estado de espírito correspondente, o tratar das mulheres de igual para igual, sem o endeusamento melodramático que os parnasianos achavam imprescindível.
Hoje, quase cem anos depois, essa discussão continua existindo. Não vai deixar de existir tão cedo. É o cabo-de-guerra entre linguagem elaborada versus linguagem espontânea. Ao longo das décadas, mudam de teoria, de sotaque e de dicção, mas a tensão entre as duas é eterna.
engraçado como Oswald não conta
ResponderExcluirele foi o maior nome daquele início
mas por fora
por dentro
da poesia mesmo que é bom e eu gosto
nunca gostei dele
não tem graça
é a mesma coisa que acontece com os patriarcas concretistas
por fora boa viola por dentro não tem nem fermento
e lembrando que os grandes do modernismo foram se afastando daquele início pra se tornarem GRANDES
lembrando mais ainda dos que mais se afastaram e mais são esquecidos MURILO MENDES e JORGE DE LIMA
Oswald foi importante mas como poeta não tinha a profundidade, o mergulho íntimo de que Drummond, Bandeira, etc. eram capazes. Estes todos pertencem a um tipo de poeta; Oswald pertenceu a outro tipo. Sobre Murilo e Jorge de Lima escrevi aqui: http://mundofantasmo.blogspot.com.br/2012/07/2935-surrealismo-catolico-2872012.html
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