Estou puxando pela memória para tentar lembrar alguns
exemplos de casos assim, em que pessoas, por falta de familiaridade com um
idioma que estão estudando ou utilizando, produzem verdadeiras aberrações
linguísticas ou termos sem sentido. Foi o caso da escolha do nome para o
mascote da Copa do Mundo. (Pensando bem, o próprio conceito de mascote da Copa
do Mundo já é uma idiotice.) (Pensando melhor ainda, Copa do Mundo também.)
A Fifa encarregou pessoas de sugerir nomes pro boneco a
partir de palavras-símbolo referentes ao Brasil, à ecologia, etc. “Zuzeco”, por exemplo, foi uma solução
proposta por eles – uma mistura de “azul” (o nosso céu) e “ecologia”. Chinfrim,
mas vamos em frente. Fiquei muito perplexo com outra escolha: “amijubi”. O
mascote se chamaria Amijubi. Por que? Amizade e júbilo. Pense numa palavra-naftalina do nosso
idioma, é esta última. Ao longo de toda minha vida só a vi por escrito, e mesmo
assim na imprensa de jornal pré-1960 e em discursos de inauguração de alguma
coisa. Nunca vi um único brasileiro usar a palavra “júbilo” numa conversa.
Vai ver que eles pensaram o mesmo, e a terceira solução – e
que parece já estar definitivamente aceita – foi “Fuleco”. Por que? Futebol e
ecologia. Nada contra os dois, mas fuleco é de lascar. Lembra fuleiro, fulo, furreca. Uma mistura
de Fu-Manchu com Cacareco. Lembrei-me daquele livro “English as she is spoke”,
um guia de idiomas, aparentemente autêntico, onde o autor pretende ensinar
inglês ao leitor mas vê-se que não tem a menor idéia do que está fazendo. O
título, que queria ter dito “O inglês como ele é falado”, é uma amostra das
distorções e desinformações do autor.
Não custava nada chamarem o mascote de Tatu-Bola. Primeiro
porque ele é um tatu-bola mesmo, e por isto foi escolhido. Segundo porque é um
nome oferecido de bandeja pelo povo (incluindo-se aí os zoólogos e os
dicionaristas) do país que sedia a Copa. Custava nada ser tatu-bola? Este episódio, por mais que seja inspirador
de galhofas, pode dar também uma dose de melancolia. O mundo globalizado está
virando um grande mal entendido entre culturas, entre idiomas, entre hábitos e
crenças. Daqui a pouco não se acha no planeta um par de pessoas que interpretem
os mesmos fatos da mesma maneira.
ResponderExcluir"Não custava nada chamarem o mascote de Tatu-Bola. Primeiro porque ele é um tatu-bola mesmo, e por isto foi escolhido. Segundo porque é um nome oferecido de bandeja pelo povo (incluindo-se aí os zoólogos e os dicionaristas) do país que sedia a Copa. Custava nada ser tatu-bola?"
"Custaria". Não pra nós, é claro.
Lembra dum rolo que aconteceu quando uma empresa japonesa registrou o nome "Cupuaçu"? Os japoneses cancelaram o registro posteriormente:
http://blog.certfica.com.br/sem-categoria/japao-anula-registro-do-cupuacu-como-marca-multinacionalca/
Eu não sei se esta postagem comenta, mas na época os jornais mencionaram que era proibido fazer registro de nomes populares de criaturas e alimentos da natureza. Se esta minha lembrança procede, a Copa, digo, a FIFA não poderia "registrar" e, portanto, ganhar seu rico dinheirinho com o Nome do bicho.
O Piauí Herald fez reportagem sobre o protesto no Rio contra este nomezinho ridículo.
http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/herald/brasil/passeata-no-centro-do-rio-exigira-que-dilma-vete-o-nome-fuleco
De fato, Brontops. Têm que faturar com a marca, e ela tem que ser única. Mas reformulo: custava inventar nomes que não fossem TODOS ridículos e grotescos? Custava pegar publicitários brasileiros, pelo menos, que tivessem bom ouvido para a linguagem das ruas?
ResponderExcluirno título você já disse tudo que eu queria falar =]
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