O paraibano Paulo Bezerra tem sido há bastante tempo um dos
melhores tradutores do russo no Brasil, juntamente com o veterano Boris
Schnaiderman e jovens como Rubens Figueiredo (“jovem” pra mim é quem é um
pouquinho mais novo do que eu). Dias atrás ele recebeu a Medalha Púchkin,
condecoração conferida a quem difunde a cultura russa em outros países, e que o
próprio Schnaiderman já recebera. Bezerra, que mora hoje no Rio de Janeiro, não
pôde ir a Moscou, por motivos de saúde.
Aos 72 anos, ele é um desses paraibanos de trajetória
improvável. Nascido em Pedra Lavrada, aos 18 anos foi para São Paulo, tornou-se
operário metalúrgico, entrou para o Partido Comunista, foi estudar em Moscou e
estava por lá quando houve o golpe de 1964. Achou melhor demorar-se na URSS e
esperar um momento mais tranquilo para retornar. Enquanto isto, formou-se em História e Filologia, e voltou ao
Brasil apenas em 1971. Em Moscou, já realizara suas primeiras traduções (como se
sabe, os soviéticos traduziam e editavam em seu próprio país, em tudo quanto
era língua, os clássicos do marxismo e da literatura local.)
Numa matéria de Joselia Aguiar da Gazeta Russa (http://bit.ly/Sh2eFb), Bezerra afirma que “aprendeu
que o sentido muitas vezes está no ritmo”, e que ao traduzir busca “o ritmo das
falas, da oralidade”. Suas traduções de Dostoiévski (para a Editora 34)
surpreendem às vezes os leitores antigos, acostumados às traduções brasileiras
feitas a partir de traduções francesas. Para esses leitores, a prosa elegante a
que estavam acostumados é substituída pelo que Bezerra considera o verdadeiro
Dostoiévski, de linguagem “dura e tosca”, e com momentos “de quase
intradutibilidade”.
É mais ou menos como se alguém pegasse uma tradução de
Graciliano Ramos para o inglês e a usasse para fazer uma versão para outro
idioma, sem ter experimentado a prosa “dura e tosca” do original, e sem
perceber, portanto, o quando essa dureza gerava dentro de si um novo sentido de
elegância verbal, baseada num jeito cru de dizer as coisas sem floreios, em
justaposições inesperadas, em sínteses brutais. A façanha de Paulo Bezerra nos
traz um novo Dostoiévski, assim como as três versões que temos agora do Ulisses de Joyce nos permitem entrever melhor, nessa prosa triplamente
refratada, algo da sonoridade e das significações do original.
Outro cara que faz um trabalho daqueles é Modesto Carone. Os textos de Kafka ficam secos, duros, onde só faz carregar mais verdade. Outra pessoa que eu gosto e muito, onde fez belas tradução do alemão, em especial textos técnicos e psicanaliticos, é Marilene Carone.
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