O
filme de Breno Silveira deve ter surpreendido quem esperava uma biografia
linear de Luiz Gonzaga, sua vida de A a Z. O roteiro traça uma cronologia
razoável da vida de Luiz, mas se concentra em sua relação com o filho
Gonzaguinha. Pais ausentes, filhos carentes; um drama antigo, que ganha empatia
ao envolver dois grandes artistas. Pai e filho foram o avesso um do outro: o
migrante sertanejo que conviveu com políticos e coronéis, e o universitário de
esquerda criado no morro. A sanfona e o violão, o forró e a MPB, e o fato de
que a ascensão do filho coincidiu com o declínio do pai. Essa inversão das
posições de poder deve ter ajudado (o filme sugere isso) esse reencontro (não
sem aspereza de parte a parte) entre dois homens adultos, cada qual se julgando
injustiçado pelo outro.
O
filme funciona na razão direta da credibilidade dos atores. Chambinho do
Acordeom talvez não reconstitua certos traços psicológicos de Gonzaga (ele
parece ingênuo e juvenil demais, e tenho pra mim que Gonzaga era mais esperto,
mais macaco-velho do que o que aparece no filme), mas sua simpatia, seu sorriso
e seu carisma evocam sem esforço o Gonzaga desse período. Já Adélio Lima, que
faz o Gonzaga idoso, tem uma composição mais profunda e mais complexa. É um
homem amargo, irônico, vivido, castigado pela fama e pela incessante batalha. Julio
Andrade, por sua vez, é um impressionante clone de Gonzaguinha, reconstituindo
seu jeito desengonçado, tenso, nervoso, como uma corda de cavaquinho prestes a
saltar.
O
filme é um melodrama redondo e firme, comparável ao Dois filhos de Francisco do diretor. É a história da luta pelo sucesso e do valor cobrado pelo imposto
do sucesso, que não é menor que o do fracasso. A narrativa se torna meio confusa no aspecto fonográfico quando
acompanha os primeiros anos do estouro nacional do baião, mas acho que só os
cronologistas profissionais percebem. O enfoque adotado, de deixar a obra em
segundo plano, faz os parceiros de Gonzaga terem uma passagem relâmpago pela
tela, mas em compensação o casal Henrique e Dina (os pais adotivos de
Gonzaguinha) tem sua importância reconhecida.
"Vida do Viajante" de Dominique Dreyfuss é legal. "O Sanfoneiro do Riacho da Brígida" é uma muito citada, mas que nunca li. O livro de Bené Fonteles, "O Rei e o Baião" (2012) não é biografia mas traz informações e uma iconografia muito rica. José Mário Austregésilo tem um livro de análise com uma discografia bem detalhada.
ResponderExcluir