sábado, 20 de outubro de 2012

3008) Anonymous (20.10.2012)





O que é o Anonymous, ou, talvez, quem são os Anonymous?  Eles não têm nome: têm “nicks”, “usernames” ou “logins”; não têm rosto, têm máscaras de Guy Fawkes. Nos últimos anos, têm sido o pesadelo e a nêmesis de governos, polícias, corporações. Invadem saites, roubam informações secretas e as divulgam para o mundo inteiro, bloqueiam ou desfalcam contas bancárias, convocam manifestações de rua e de praça. As autoridades os chamam de neo-terroristas, mas eles nunca (ao que eu saiba) tiraram vidas humanas. Atacam a informação e a propriedade privada. São uma bomba-de-nêutrons ao contrário: fazem ruir as infra-estruturas e deixam as pessoas intactas. Estiveram presentes na Primavera Árabe, apoiaram o saite Wikileaks em suas campanhas de vazamento de informações econômicas e militares, combateram departamentos de polícia e a Igreja da Cientologia.

Os Anonymous são o novo Anarquismo – sem bombas, mas sempre infernizando a vida dos arquiduques. Uma multidão espontânea, não-coordenada, sem líderes; na verdade são um conjunto de subgrupos de hackers e agitadores, que agem cada qual por conta própria e mandam a conta ser cobrada à griffe. Num artigo na revista Wired de julho (http://bit.ly/LVLPbf) Quinn Norton analisa esse aspecto sem-forma do movimento. Em junho de 2011 o FBI prendeu e cooptou “Sabu”, um ativista de intensa participação; até que isto foi revelado em março de 2012, “Sabu” entregou uma infinidade de companheiros. Isto quebrou a espinha do movimento? De jeito nenhum. Nos Anonymous, nenhum indivíduo é insubstituível. Conan Doyle dizia que nenhuma corrente é mais forte do que o mais fraco dos seus elos. Os Anonymous parecem ser uma corrente que só pode ser quebrada se todos os seus elos o fôrem, simultaneamente.

Quinn Norton comenta que o grupo é uma “do-ocracy”, uma “fazer-cracia”, onde tudo converge para ações específicas: “indivíduos propõem ações, outros se juntam a eles ou não, e depois a bandeira dos Anonymous é hasteada sobre o resultado. Não há ninguém para dar a permissão, nenhuma promessa de louvor ou de crédito, portanto cada ação deve ser sua própria recompensa”. É um anarquismo eletrônico, sem líderes, não hierárquico, não vertical. Ordens são dadas e obedecidas dependendo do contexto – quem obedece hoje pode estar mandando amanhã e obedecendo de novo no mês que vem. Uma combinação de brodagem com ativismo. Até hoje, quem entrava na política o fazia via política estudantil ou política sindical, até chegar na política partidária. Agora há uma geração inteira na faixa dos 15-20 anos que entra na política pela via do anarquismo eletrônico. Sei que nada será como antes, amanhã.



Um comentário:

  1. Braulio,

    Tenho dúvidas em relação à consciência desses garotos. Acredito que alguns, talvez até um pouco mais experientes, possam estar usando-os como massa de manobra, e isso nada tem de novo. O que não diminui o valor de algumas ações.

    Também acredito que existam grupos que se identificam com os Anonymous de uma forma delirante, agindo exclusivamente em causa própria, nenhuma relação com ideologias políticas, muitas vezes também liderados por pessoas que sabem a diferença entre o que estão fazendo e o que fazem os Anonymous e que também se utilizam da ingenuidade e da vontade de fazer parte de um grupo - nesse caso, pretensamente subversivo - desses meninos.

    E a respeito de "Nós Somos Legião", para quem se interessa pelo assunto e por Alan Moore, uma explicação sobre a expressão (caso haja outra, ficarei grata em saber): http://www.crato.org/chapadadoararipe/2009/07/18/a-origem-da-expressao-espirito-de-porco-ou-melhor-os-espiritos-nos-porcos/

    Abraço

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