Não
sou a única pessoa que se surpreendeu ao ser avisado, pela TV, que os Jogos
Paraolímpicos chamam-se agora Jogos Paralímpicos. Não vi a menor razão para
isso, porque mesmo que fosse necessário eliminar uma dessas vogais do meio da
palavra (“...ao...”) o resultado, ao meu ver, deveria ser algo como
“parolímpico”. Por que? Porque olímpico vem de Olimpíadas, palavra
que por sua vez vem de Olimpo, o monte Olimpo da Grécia, onde viviam
virtualmente os deuses antigos. Pra mim não faz o menor sentido mutilar a raiz
da palavra amputando esse “O” inicial. Se alguma vogal tem que cair, que caia a
do prefixo, ora. Não dizemos “hidrelétrico”?
O
saite oficial do Comitê Paralímpico Internacional diz apenas: “A palavra
paralímpico deriva da preposição grega ‘para’ (= ao lado de, ou ao longo de) e
a palavra ‘Olímpico’. Seu significado é que os Jogos Paralímpicos são jogos
paralelos às Olimpíadas, e ilustram como os dois movimentos existem lado a
lado”. Ninguém me explicou até hoje por
que motivo os ingleses derrubaram o “O” olímpico, e espero que haja uma boa
razão linguística e morfológica para esse absurdo, porque sentido aparente não há
nenhum. (Talvez quisessem evitar a semelhança com “parole”, liberdade
condicional?...)
O
professor Pasquale Cipro Neto veio ao meu socorro em sua coluna (intitulada
“Paralímpico: haja bobagem e submissão”) na Folha de SP (http://bit.ly/RnCAwl), que cito a seguir:
“A
formação de ‘paraolímpico’ é semelhante à de termos como ‘gastroenterologista’,
‘gastroenterite’, ‘hidroelétrico/a’, ‘socioeconômico’, das quais existem formas
variantes, em que se suprime a vogal/fonema final do primeiro elemento (mas
nunca a vogal/fonema inicial do segundo elemento): ‘gastrenterologia’, ‘gastrenterite’,
‘hidrelétrico/a’, ‘socieconômico’. O uso não registra preferência por um
determinado tipo de processo: se tomarmos a dupla ‘hidroelétrico/hidrelétrico’,
por exemplo, veremos que a mais usada sem dúvida é a segunda; se tomarmos ‘socioeconômico/socieconômico’,
veremos que a vitória é da primeira. O fato é que em português poderíamos
perfeitamente ter também a forma ‘parolímpico’, mas nunca ‘paralímpico’, que,
pelo jeito, não passa de macaquice, explicitação do invencível complexo de
vira-lata (como dizia o grande Nélson Rodrigues)”.
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