quarta-feira, 12 de setembro de 2012

2974) Paralímpico? (12.9.2012)




Não sou a única pessoa que se surpreendeu ao ser avisado, pela TV, que os Jogos Paraolímpicos chamam-se agora Jogos Paralímpicos. Não vi a menor razão para isso, porque mesmo que fosse necessário eliminar uma dessas vogais do meio da palavra (“...ao...”) o resultado, ao meu ver, deveria ser algo como “parolímpico”.  Por que?  Porque olímpico vem de Olimpíadas, palavra que por sua vez vem de Olimpo, o monte Olimpo da Grécia, onde viviam virtualmente os deuses antigos. Pra mim não faz o menor sentido mutilar a raiz da palavra amputando esse “O” inicial. Se alguma vogal tem que cair, que caia a do prefixo, ora. Não dizemos “hidrelétrico”?

O saite oficial do Comitê Paralímpico Internacional diz apenas: “A palavra paralímpico deriva da preposição grega ‘para’ (= ao lado de, ou ao longo de) e a palavra ‘Olímpico’. Seu significado é que os Jogos Paralímpicos são jogos paralelos às Olimpíadas, e ilustram como os dois movimentos existem lado a lado”.  Ninguém me explicou até hoje por que motivo os ingleses derrubaram o “O” olímpico, e espero que haja uma boa razão linguística e morfológica para esse absurdo, porque sentido aparente não há nenhum. (Talvez quisessem evitar a semelhança com “parole”, liberdade condicional?...)

O professor Pasquale Cipro Neto veio ao meu socorro em sua coluna (intitulada “Paralímpico: haja bobagem e submissão”) na Folha de SP (http://bit.ly/RnCAwl), que cito a seguir:

“A formação de ‘paraolímpico’ é semelhante à de termos como ‘gastroenterologista’, ‘gastroenterite’, ‘hidroelétrico/a’, ‘socioeconômico’, das quais existem formas variantes, em que se suprime a vogal/fonema final do primeiro elemento (mas nunca a vogal/fonema inicial do segundo elemento): ‘gastrenterologia’, ‘gastrenterite’, ‘hidrelétrico/a’, ‘socieconômico’. O uso não registra preferência por um determinado tipo de processo: se tomarmos a dupla ‘hidroelétrico/hidrelétrico’, por exemplo, veremos que a mais usada sem dúvida é a segunda; se tomarmos ‘socioeconômico/socieconômico’, veremos que a vitória é da primeira. O fato é que em português poderíamos perfeitamente ter também a forma ‘parolímpico’, mas nunca ‘paralímpico’, que, pelo jeito, não passa de macaquice, explicitação do invencível complexo de vira-lata (como dizia o grande Nélson Rodrigues)”.

Resumindo: os países de fala inglesa produziram a forma “paralímpico” e a impuseram aos demais países, que vêm a reboque na criação de organismos internacionais, entidades, eventos, etc. Estes se sentiram na obrigação de adotar essa forma, mesmo que ela não faça o menor sentido em seu próprio idioma. Não é o primeiro nem será o último caso em que isso acontece.


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