Existem formas pesadas e formas leves de literatura. Entre
as formas pesadas estão o romance e, talvez surpreendentemente, o conto, que à
primeira vista pareceria ser leve, pelo mero fator do tamanho. Mas ambas são igualmente pesadas pelo grau
de intensidade que requerem: criação de ambientes, de personagens, de trama,
etc. Um romance pode ser mais “pesado”
do que um conto, mas uma página de um e uma página de outro devem ter o mesmo
peso.
Existem formas leves que não necessitam
de tanta imaginação e elaboração, pedem apenas cultura, estilo,
sensibilidade. Muita gente pode não
achar que uma carta, uma mera carta pessoal dirigida a um amigo, possa ser uma
obra literária. As cartas publicadas de
muitos grandes escritores contradizem de certo modo essa expectativa. As cartas de H. P. Lovecraft e de Raymond
Chandler são, em alguns aspectos, superiores à obra de ficção que produziram.
Cartas são literatura de não-ficção, tal como os Diários, outra forma de
literatura leve que foi brilhantemente cultivada por muitos romancistas. Há mesmo autores que se celebrizaram pelos
Diários que escreveram, e que em alguns casos foi tudo que publicaram. Diários como os de Anne Frank, Anaïs Nin e
outros são obras que acabam tendo um alcance muito superior ao de muitas obras
de ficção.
As memórias e autobiografias são uma extensão disso. São
gêneros leves, porque dispensam a criação de enredos e de personagens, e têm
valor apenas pelo poder de observação do autor, pelo interesse que possa ter o
seu estilo, e pelas que suas digressões e reflexões possam ter de
enriquecedor. Nunca li um romance
inteiro de Simone de Beauvoir, mas a considero uma grande escritora apenas pela
sua meia dúzia de volumes de memórias.
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