Para mim é um dos melhores filmes brasileiros de todos os
tempos, impressão que se manteve quando o revi agora, depois de mais de 20
anos. Os puristas ficarão zangados, mas
os puristas são como os turistas, não gostam de ver o lado sujo das coisas. Mario
Quintana disse que um crítico é um sujeito que ao ver uma bela tapeçaria dá a
volta para ver como ela é pelo avesso; alguns artistas são assim também.
Rogério Sganzerla tinha 22 anos quando fez este filme em 1968,
com uma equipe minúscula e pouco dinheiro, filmando em preto-e-branco no meio
da Boca do Lixo de São Paulo. Era um contestador do Cinema Novo que, segundo
ele, tinha se “aburguesado”, deixara de ser um cinema de esquerda,
revolucionário, e estava seduzido pelos elogios da crítica européia e pelos
prêmios nos Festivais. Sganzerla seguiu a receita criada (ou aperfeiçoada) por
Glauber Rocha, “uma câmara na mão e uma idéia na cabeça”, e nota-se em seu
filme muitas pequenas influências (inevitáveis, aliás) dos dois grandes filmes
de Glauber até então, Deus e o Diabo... e Terra em Transe. Alguns detalhes, no entanto, são
essenciais. Sganzerla não toma uma
atitude de esquerda; sua crítica à sociedade é o que hoje chamaríamos de
“atitude punk”, o chute-no-pau-da-barraca, o niilismo. A frase-lema do filme é: “Quando a gente não
pode fazer nada a gente avacalha; avacalha e se esculhamba”. Tanto o governo militar quanto o Partido
Comunista discordavam, com veemência.
Cheio de escracho e de improvisações, O Bandido... tem
cenas que, se descritas ao pé da letra em twitters, poderiam compor um poema
meio surrealista. Seu ponto forte é a
semi-incoerência narrativa (cada cena, no estilo Godard, tem pouco a ver com a
anterior), espertamente costurada por um casal de locutores tipo “A Polícia nas
Ruas”. É o modelo Cidadão Kane: a reportagem jornalística “fake” fornece um
fio de continuidade para cenas que se unem por justaposição, são por
consequência.
Quem tiver de sapato não sobra!
ResponderExcluirSua resenha do filme é sensacional.
ResponderExcluirparabéns.