(escultura: Jeremy Mayer)
O escritor Luiz Bras, no jornal Rascunho (Curitiba)
promoveu uma enquete informal entre leitores de ficção científica, pedindo que
votassem nos três melhores contos da FC brasileira. Fui um dos consultados, mas
o pedido veio num momento caótico do meu cotidiano. Quando me toquei, vi que não tinha respondido
à pergunta de Luiz. O conto mais votado foi “A escuridão” (1963) de André
Carneiro, um dos grandes textos de nossa FC (eu o incluí na minha antologia Páginas de Sombra, de 2003). Em todo
caso, mesmo com atraso, aqui vão os contos que eu havia anotado e esqueci de
enviar para a enquete.
Eu votaria em “Ma-Hôre” (1961) de Rachel de Queiroz, que
incluí na antologia Páginas do Futuro (2011). É a história de um pequeno ser
anfíbio em cujo planeta desembarca uma nave terrestre. Ele dá um jeito de
entrar na nave, aprende a se comunicar mais ou menos com os astronautas, e ao
subir com eles ao espaço começa a tramar um jeito de escapar. É um conto na
linha tradicional da FC em que criaturas mais simples e mais primitivas
conseguem, por sua engenhosidade, iludir membros de uma civilização mais
tecnológica.
Votaria em “61 Cygni” (1960) de Fausto Cunha, que também
incluí na antologia Contos Fantásticos de Amor e Sexo (Ímã Editorial, 2011).
É a história assustadora de uma prostituta que, de madrugada, num beco escuro,
se depara com um cliente muito fácil de satisfazer, porque sempre se satisfaz.
É um conto cruel à maneira de Villiers de l’Isle Adam, e tem um final “slingshot”
que projeta toda a história num outro nível de realidade. E votaria em “Dea
mayor sperientiae”(1965) de Nilson Martello, disfarçado de crônica do século
14, relatando o encontro de um rei português com uma criatura extraterrestre,
com direito a uma saborosa reconstituição/contrafação do português falado na
época. Foi republicado por Roberto Causo em sua antologia Estranhos Contatos (Caioá Editora, 1998).
Escolhidos estes
contos, percebi que eram todos de uma mesma época, e que eu não havia incluído
nenhum conto contemporâneo, embora haja muitos deles de boa qualidade. O que ocorre é que em enquetes assim nunca
buscamos a surpresa, e sim o óbvio; buscamos textos que nos parecem tão bons ou
tão importantes que ninguém ousaria discordar.
Um pequeno cânone em forma de pílula. São importantes para mim (não só
estes, claro) porque os li antes dos 16 anos.
Eles me mostraram, a mim que lia de Ray Bradbury a Richard-Bessière, o
que uma FC brasileira poderia fazer dentro do universo da nossa língua e da
nossa intuição fabulatória. Eles me ajudaram a ter da FC brasileira uma alta
expectativa literária, desde o começo.
Poxá, fiquei interessado no conto da Raquel! pena que ela não se aventurou mais na ficção científica, quem sabe seria um dos grandes nomes do gênero hoje.
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