Cap. 1 – De como certo dia nasceu em Junco do Seridó uma menina, filha de um frentista de posto e de uma cozinheira, e foi batizada como Maria Ceilândia.
Cap. 2 – De como aos 19 anos ela trabalhava de babá para a
filha de Jacyelle, uma superstar de forró de Fortaleza, e viajou acompanhando a
patroa numa excursão pela Europa.
Cap. 3 – De como, para surpresa de todos,
Maria Ceilândia sumiu do Hotel para sempre, deixando pregada no travesseiro uma
folha de papel dizendo apenas: “Dei o leite e o remédio à meia-noite. Fui!!!”,
assim, com três pontos de exclamação.
Cap. 4 – De como o mundo nada mais soube durante dois anos e meio,
entretido em fazer revoluções em torno do Sol.
Cap. 5 – De como, no início de
um verão aparentemente igual aos outros, multidões parisienses se acotovelavam
em frente ao cabaré “Le Boeuf Noir”, no Pigalle, cujos néons anunciavam o show
de estréia de Safira Cingalesa, a mais famosa dançarina-do-ventre do Sri Lanka.
Cap. 6 – De como seu empresário, o misterioso dândi Victor Cohen, governava com
mão-de-ferro seus feéricos shows, sua fortuna rapidamente adquirida, e as
paixões tempestuosas que ela despertava mundo afora.
Cap. 7 – De como Safira
Cingalesa fez uma turnê devastadora pelas capitais da Europa, arrebatando
platéias, seduzindo xeiques sauditas e playboys novaiorquinos, e mantendo seu
voto de silêncio diante de uma mídia sequiosa por entrevistas.
Cap. 8 – De como o Marquês de Dautrémont e o
General L’Herbisier duelaram pelo amor da dançarina, ferindo-se mortalmente um
ao outro numa gélida manhã enevoada no Bois de Boulogne.
Cap. 9 – De como um
belo dia Safira Cingalesa estava se apresentando em Lisboa e num restaurante de
luxo cruzou com a cantora de forró Jacyelle, que a reconheceu imediatamente, gritou:
“Maria Ceilândia! Ah, condenada dos infernos!”, passou-lhe uma descompostura e
meteu-lhe a bolsa na cara, enquanto Safira, para espanto dos comensais e para o
deleite e os flashes dos “paparazzi”, ajoelhava-se aos seus pés, chorando e
dizendo: “Desculpe, Dona Jacyelle! Eu
tava só brincando!”.
Cap. 10 – De como Jacyelle
meteu igualmente a bolsa na cara de Victor Cohen (que tombou no tapete,
desmaiado e falido) e recambiou Maria Ceilândia de volta ao Ceará, onde ela empregou-se
como recepcionista em convenções empresariais, deu entrevistas na Globo, posou
para a “Playboy”, candidatou-se a deputada estadual (teve 73 votos) e acabou se
casando com Amintas Salgueiro, 52 anos, evangélico, dono de uma fábrica de
bicicletas, e confidenciou às amigas: “Ai que bom, eu não aguentava mais
aqueles homens no meu ouvido gemendo coisas que eu não entendia”.
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