Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 25 de março de 2012
2827) O Princípio Peter (25.3.2012)
A Lei de Murphy diz que “o pão com manteiga sempre cai com a manteiga pra baixo”, ou, mais genericamente, que “se uma coisa tem alguma possibilidade de dar errado, dará; e se puder dar mais errado ainda, pode contar com isto”. Há muitas “leis” assim, informalmente criadas, e que guardam o nome dos seus criadores. E no meio delas fala-se muito num tal de “Princípio Peter”, que não é tão conhecido e precisa sempre ser explicado.
De tanto ouvir falar nele sem entendê-lo por completo fui consultar a mãe-dos-burros. (Se o pai-dos-burros é o dicionário, a mãe é a Wikipedia.) O “Peter Principle” foi formulado por um canadense chamado Laurence J. Peter e diz apenas: “Numa hierarquia, cada empregado tende a subir até alcançar o nível de sua incompetência”. O livro com o nome desse princípio foi lançado em 1969 e tornou-se um best-seller.
O que Peter afirma é simples. Quando um sujeito se destaca em seu trabalho ele é promovido, porque seus chefes veem suas qualidades e querem aproveitá-las num nível mais alto. Se ele se destaca de novo, torna a ser promovido e vai subindo. (“Promoção”, num trabalho sério, é um pouco como subir de nível num videogame: seu prêmio é ir recebendo incumbências cada vez mais difíceis.) Chega então um momento em que o sujeito começa a não corresponder, a não se desempenhar tão bem quanto fazia nas funções inferiores. Ele atingiu (nas palavras de Peter) seu nível de incompetência. E ali ele fica.
A sutileza é que na vida profissional há outros fatores envolvidos além da mera apreciação e avaliação da competência. Quando um sujeito passa por promoções sucessivas, ele vai acumulando tempo de serviço, respeito, admiração dos colegas, temos dos subalternos, força política. Se só contasse a qualidade do desempenho, ao atingir seu nível de incompetência ele seria rebaixado para o posto anterior, onde chegou a se destacar. Mas não é isso que acontece. O sujeito, que lutava para ser promovido, percebe que está meio perdidão e faz o possível agora para não ser rebaixado. E geralmente consegue. Há uma quantidade imensa, em qualquer empresa, de funcionários que estariam se saindo muito melhor num cargo inferior ao que efetivamente ocupam; mas para descobrir seu nível de incompetência foi preciso promovê-los para uma função de onde agora é difícil tirá-los.
Claro que todo mundo acha uma saída. Exércitos, bancos, multinacionais dão um jeito de “premiar” o cara com um cargo bem remunerado em Singapura ou Cabrobó. Num artigo na revista “Edge”, Nicholas G. Carr diz: “A viga mestra do sonho americano, o desejo de subir a escadaria do sucesso, tornou-se uma receita para a mediocridade em massa”.
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