sábado, 28 de janeiro de 2012

2778) O segredo de Descartes (28.1.2012)


Existem livros de mistério que não são ficção, não empregam detetives e não investigam um assassinato. São aquelas investigações históricas, arqueológicas, etc., em que o autor começa expondo uma situação misteriosa qualquer, que de fato ocorreu, e aos poucos vai deslindando a trama de lacunas e de pistas falsas, dando explicações, checando hipóteses, até nos dar a solução final. 

Gosto ainda mais desses livros quando se trata de pesquisas sobre história da arte ou da ciência. É o caso de O Caderno Secreto de Descartes (Ed. Zahar, 2007) de Amir D. Aczel. Li-o durante os mesmos dias em que assisti o Descartes de Roberto Rossellini, um filme para TV contando a vida do filósofo francês. 

O livro de Aczel conta a vida de Descartes mas não tem a intenção de ser uma biografia exaustiva (existem várias, que ele cita sempre que necessário). Seu interesse maior é rastrear a história de um caderninho que era mantido pelo filósofo, com parte das anotações em código, e que por um triz não se perdeu, depois de mofar durante séculos nos porões de casas e castelos e de sobreviver a um naufrágio. 

Descartes tinha motivos para usar escrita em código. Por ser um soldado errante, de família nobre, que se alistava em exércitos por espírito de aventura e gostava de viver viajando, era sempre visto com estranheza e desconfiança onde chegava. Numa época de paixões políticas incendiárias vale sempre o ditado de “quem não é nosso, é deles”. Como Descartes não se aliava ostensivamente a nenhum grupo, todos desconfiavam dele. 

Foi suspeito de pertencer ao movimento Rosacruz, foi tido como espião, foi perseguido no meio acadêmico por cristãos radicais que se horrorizavam com seu interesse pela ciência prática. 

O livro de Aczel retrata todas essas polêmicas, estuda os famosos “três sonhos” que inspiraram ao filósofo suas grandes descobertas, documenta a morte do filósofo na corte de Cristina da Suécia (ele deve ter morrido de pneumonia, mas há sempre uma suspeita de assassinato político no ar), e por fim a descoberta e a decifração do seu caderno secreto, graças à cópia manuscrita que Leibnitz fez quando teve acesso a ele. 

Não é nenhum “segredo de Fátima”; basta dizer que Descartes intuiu, antes de todo mundo, o moderno campo matemático da Topologia, e a prova disto está no caderninho. 

Aczel lembra, no início do livro, que as coordenadas cartesianas abriram caminho para os localizadores GPS, para o mapeamento dos pixels numa tela de computador, para a engenharia, a astronomia, e onde quer que seja necessário transformar dados aritméticos em geométricos, ou vice-versa. Poucos homens mudaram tanto o mundo.






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