Um homem e uma mulher, que não se conhecem, viajam por acaso no mesmo vagão de trem noturno. À noite, cada um se deita no seu beliche e pega sua manta. No meio da noite, a mulher se levanta e vai até o beliche do homem: “Por favor, estou com muito frio... Você podia me emprestar sua manta?”. Ele diz: “Tenho uma idéia melhor. Poderíamos fingir que somos casados, só por esta noite!” Ela dá um sorriso malicioso e diz: “Claro... Por que não?” Ele responde: “Então larga minha manta, vai dormir, e não enche!”.
Toda piada se baseia na descrição de uma situação, numa inferência errônea que fazemos sem perceber, e na revelação brusca, na derradeira linha, do que estava de fato acontecendo.
No presente caso, a inferência errônea é a mesma que a mulher fez, ou seja, de que com esse papo de “fingir que eram casados” o homem estava propondo que fizessem sexo para se aquecer. Com a frase final dele, ficamos sabendo o que de fato ele estava pensando.
Achamos graça porque é uma versão plausível dentro da nossa cultura, em que o casamento é muitas vezes abordado como uma fonte permanente de pequenas disputas, discussões, pequenos egoísmos, pequenas indelicadezas. As duas possibilidades são igualmente plausíveis (o homem quer sexo; o homem quer ser deixado em paz), e a habilidade da piada (e de quem vai recontá-la) é dar a entender uma coisa e surpreender com a outra.
Matthew Hurley, co-autor de Inside Jokes: Using Humor to Reverse-Engineer the Mind (MIT Press, 2011) afirma que nossa mente trabalha sem parar, fazendo hipóteses e presumindo coisas a respeito de tudo que nos cerca, tentando não ser apanhada de surpresa.
Acontece que um número enorme dessas hipóteses se revelam erradas e são descartadas, mas lidar com elas faz parte de nossa atividade mental. Será que esse motoqueiro vai mesmo cortar na frente do meu carro? Será que o guarda me viu passar o sinal vermelho? Será que aquele é Fulano no carro ao lado?
Muitas dessas possibilidades podem gerar situações tensas ou constrangedoras que nunca se verificam, mas nossa memória não as abandona totalmente. O humor serve muitas vezes como uma reconstrução dessas coisas que não aconteceram, muitas delas por serem absurdas ou altamente improváveis; e a descarga nervosa representada pelo riso é nossa reação diante de algo absurdo que ameaça acontecer e não acontece, ou então algo comum que acaba acontecendo de maneira absurda.
Diz Hurley (http://b.globe.com/sXfzh7): “O humor é agnóstico com respeito ao conteúdo, porque consiste apenas na descoberta de uma falsa suposição, e este processo não requer nenhum conteúdo em especial. (...) O que é universal no humor é o processo, não o conteúdo”.
Muitas dessas possibilidades podem gerar situações tensas ou constrangedoras que nunca se verificam, mas nossa memória não as abandona totalmente. O humor serve muitas vezes como uma reconstrução dessas coisas que não aconteceram, muitas delas por serem absurdas ou altamente improváveis; e a descarga nervosa representada pelo riso é nossa reação diante de algo absurdo que ameaça acontecer e não acontece, ou então algo comum que acaba acontecendo de maneira absurda.
Diz Hurley (http://b.globe.com/sXfzh7): “O humor é agnóstico com respeito ao conteúdo, porque consiste apenas na descoberta de uma falsa suposição, e este processo não requer nenhum conteúdo em especial. (...) O que é universal no humor é o processo, não o conteúdo”.
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